21 outubro 2006

SBAC2006 - Ouro Preto: Parte 4 - Já Esperando por Gramado

O terceiro e o quarto último dia do evento foram bastante proveitosos. Foi dada continuidade às sessões técnicas. Uma das atividades mais interessantes a que pudemos assistir foi a Maratona de Programação Paralela, na qual estudantes de diversas universidade eram desafiados a paralelizar alguns problemas clássicos em computação. O objetivo era verificar quem conseguia obter o maior speedup.
Ainda houve duas palestras muito interessantes, as quais comentarei com mais calma no meu retorno. O Prof. Kazuaki Murakami, da Universidade de Kyushu, falou sobre o projeto PetaScale, cujo objetivo é construir um computador com desempenho de dezenas de petaflops. já a Profa. Margaret Martonosi, da Universidade de Princeton, falou sobre o Projeto Zebranet, no qual uma rede de sensores móveis são utilizados para rastrear os movimentos de zebras num parque nacional no Quênia.
Ao retornar pra casa, vou comentar mais detalhadamente sobre o evento... Estar fora de seu computador e pagando internet é brabo!!! Um grande abraço.

19 outubro 2006

SBAC2006 - Ouro Preto: Parte 3 - O Simpósio Começa em Grande Estilo

Ok, ok, eu tenho fotos do evento, mas não estou conseguindo postar porque não trouxe o notebook ("Travel light, travel fast"). Prometo assim que puder colocarei aqui as fotos. Por enquanto, vamos aos fatos.

De primeira, quero dar um conselho, em especial aos meus alunos: estude inglês e perca a vergonha de falar numa língua estrangeira. Falar inglês não é mais um extra, é fundamental. É interessante ver, numa cidade como Outro Preto, no interior de Minas Gerais, essa quantidade impressionante de turistas estrangeiros. Além disso, num simpósio como o SBAC, apresentar em inglês é oibrigatório e já pude ver alguns mestrandos, doutorandos e até professores passando um dobrado.

Nesta quarta-feira, o evento foi marcado pelo início das sessões técnicas, nas quais foi possível entrar em contato com trabalhos de pesquisa de alta qualidade, nas mais diversas áreas. As sessões técnicas versaram sobre: Aplicações de Alto Desempenho, Computação em Grids e Clusters e Microarquitetura de Processadores.

O ponto alto do dia foi a palestra do Prof. Joel Saltz, da Ohio State University, quando apresentou a caGrid, uma iniciativa para o gerenciamento, pesquisa e convergência de estruturas maciças de armazenamento de dados. Esse projeto pretende congregar, através de um grid, dados de imagens médicas e pesquisas em bioquímica, medicina e biofísica, a fim de aprimorar o fluxo de informações de pesquisas sobre o cancêr em várias universidades estadunidenses.

O dia encerrou-se com um excelente coquetel de recepção, com comida típica mineira e bebidas da terra. Foram servidos torresmo, mandioca frita, linguiça caipira, iscas de lombo, além de diversos tipos de queijos e frios, típicos da terrinha. Para degustação havia cachaças de Salinas, inclusive a famosa, que também leva o nome da cidade. Um grupo de chorinho e samba animou a noite.

18 outubro 2006

SBAC2006 - Ouro Preto: Parte 2 - As primeiras impressões

O primeiro dia de evento foi tranqüilo. Os dias mais puxados serão quarta e quinta. Abrindo os trabalhos do simpósio houve três eventos paralelos: o WEAC (Workshop de Educação em Arquitetura de Computadores), o PARGOV (Workshop sobre Clusters e Grids Aplicados a Governança Eletrônica), o WVAD (Workshop em Visualização de Alto Desempenho) e o HPCLIFE (Workshop on High Performance Computing in the Life Sciences).

Além desses eventos, houve ainda um tutorial muito interessante com o Prof. Jean-Luc Gaudiot, intitulada "The Walls of Computer Design", na qual ele tratou de relacionar e discutir os principais desafios (barreiras, "walls") no projeto de computadores. Entre eles, citou com bastante ênfase o uso de Chip Multiprocessors (CMP, processadores multicore) e de Simultaneous MultiThreading (SMT). A mensagem principal é de que definitivamente é necessário investir em paralelismo de instruções e threads, ao invés de buscar alternativas físicas para aumentar a freqüência de processadores.

Encerrando o dia, foram apresentados dois minicursos: "WebServices para Computação de Alto Desempenho", apresentado pelo Prof. Alexandre Caríssimi (UFRGS) e "Arquitetura de Processadores com Conjunto de Instrução Reconfigurável", pelo Prof. Ivan Saraiva (UFRN).

Para terminar bem o dia em Ouro Preto, chuva TORRENCIAL. Muito aguaceiro, parecia que o céu ia desabar sobre a cidade... A manhã de quarta-feira continua com chuva...

17 outubro 2006

SBAC2006 - Ouro Preto: Parte 1 - Histórias de ônibus

Bem, essa semana estou participando do SBAC (Simpósio Brasileiro de Arquitetura de Computadores) que está sendo realizado em Ouro Preto. Antes de vir ao evento estava em Juiz de Fora, em visita familiar. Começa aí a aventura...

Quem já viajou entre cidades do interior de Minas, sabe como a coisa funciona: é viajar de "cata-jeca" e fazer baldeação. Comigo não foi diferente. A opção mais simples de transporte por ônibus era via Conselheiro Lafaiete, com espera de 1 hora entre um ônibus e outro. Contudo o mais marcante é o "cata-jeca" (o mesmo que "ônibus pinga-pinga" no sul), uma linha que vinha parando pra qualquer moita que se mexesse com o vento na estrada. Esse horário em que eu fui pára em Santos Dumont, Barbacena, Ressaquinha e Carandaí, antes de Lafaiete; depois para em Congonha, antes do final em Beagá (Belzonte ou Belo Horizonte).

Fora as paradas, o trajeto foi tranquilo, saindo de JF às 07:00 e chegando em Ouro Preto às 12:30. O lance depois foi encontrar a pousada e o Centro de Convenções. Ladeira, ladeira, ladeira... Daquelas que nem cabrito de kichute sobe tranqüilo. O que mais desespera é quando você vê só descida: a volta será SÓ SUBIDA!

Mas Ouro Preto continua linda e acolhedora, com aquele ar de que parou no tempo... Outra hora eu falo mais sobre o congresso e algumas histórias do ônibus. Claro! Jeca (que nem eu) ouvindo jeca, tem de ter causo.

04 outubro 2006

Longe do Brasil

No final do ano de 1999, passei seis meses num estágio-sanduíche nos Estados Unidos. Mais exatamente estive na Purdue University, em West Lafayette, estado de Indiana. Foi uma experiência ímpar, na qual tive inclusive a alegria de conhecer a cidade de Chicago, mas também fez-me ver o quanto a grande "Terra Brasilis" é maravilhosa. Saudade, muita saudade do Brasil, dos amigos, da família, do pão de queijo, da pamonha, de tudo um pouco...

Naqueles dias, em meio ao frio (inverno de -15 graus!) havia dias em que só me restava escrever, escrever e escrever. Cartas, artigos, apostilas e, sobretudo, poesias. Daqueles dias, essa poesia abaixo foi um retrato do que via e sentia. Espero que gostem.

TODOS OS MARES SÃO IGUAIS?

Navio no oceano
Porto único
Tantos mares
Tantas venturas
Todavia há de retornar

Tua âncora é
Tão longa quanto mil milhas
Cada uma mede outras mil
Todavia há de retornar

Cores estranhas
Sons estranhos
Sonhos estranhos
Deuses bizarros
Sua cor, seu som, seus sonhos, seu Deus
Não são melhores
Não são maiores
São seus...
E ainda há de retornar

Pensa que tudo mudou
Pensa que tudo está igual
Nada mudou
Nem permanece igual
E é ainda o mesmo menino
O mesmo homem
Com filosofias tão novas
E anseia retornar

03 outubro 2006

O Que É Ser Mineiro?

Os meus amigos mais próximos sabem que, apesar de ter nascido na incrível e adorável (ao menos para mim) cidade de São Paulo, amo Minas Gerais (ou pelo menos quase todo o estado). Mais especialmente, amo a cidade de Juiz de Fora. Mas o que poucos sabem é o que JF ("jotaéfe", é assim que os nativos e amantes dessa cidade a chamam) significa pra mim.

Antes de qualquer coisa, em JF descobri minha profissão, minha paixão pela poesia, a vida adulta, os grandes amigos que carrego até hoje no coração. Querem mais detalhes? Então essa é a minha lista pessoal, contendo os significados de "Ser um Jovem Mineiro (de Juiz de Fora)":

- Estudar no CTU (Colégio Técnico Universitário).
- Ter milhares de histórias pra contar do tempo de CTU.
- Ter estudado Informática Industrial.
- Ser da 3a turma formada na Informática Industrial
- Ter sido professor do CTU.
- Gritar, pular e torcer nos intercursos e interclasses do CTU.
- Criar dezenas de gritos de guerra pra torcida do seu curso.
- Ter o prazer de ver a minha turma bater a, até então, imbatível turma de Metalurgia no vôlei.
- Namorar depois da aula (ou cabular aula) sentado sob as árvores da UFJF (onde ficava o CTU)
- Passar mal com a comida do bandejão do R.U.
- Ter o (des)prazer de andar de "pretão" (circular da universidade), quando ele ainda existia.
- Participar das rixas com a Faculdade de Engenharia.

- Passear no calcadão da Rua Halfeld (foto acima) no sábado de manhã.

- Marcar com um encontro com alguém no relógio (foto acima) do Parque Halfeld (e usar o relógio como referência máxima pra atrasos ou desculpas)
- Comer um sanduíche do Mary Milk, no final da balada.
- Ter dançado nos bailes da danceteria Dream´s.
- Ter jogado boliche na Murilândia.
- Ter tentado de tudo pra entrar no Vivabella (mas não te deixavam, porque era "de menor")
- Ter economizado dinheiro para entra na Squadro (e não poder entrar porque era "de menor" e não tinha "pai rico")

- Passar o domingo de tarde no Museu Mariano Procópio.
- Fazer o programa de índio no sábado com a turma e ir de trem até Matias Barbosa (e voltar correndo, porque não tem nada pra fazer lá).
- Ir na Festa das Nações.
- Ir na Exposição Agropecuária e Industrial da cidade.
- Levar a namorada até o Manoel Honório Procópio a pé porque nenhum dos dois tinha dinheiro pro ônibus.
- Andar a pé de Santa Terezinha até São Mateus na hora do almoço, porque não tinha dinheiro pro ônibus.
- Pedir carona pra ir pra ou vir da Universidade porque não tinha dinheiro pro ônibus.
- Andar a pé pra qualquer lugar porque NUNCA tinha dinheiro pro ônibus.
- Fazer um passeio de bicicleta de São Mateus a Benfica, mas por puro prazer de passear (já devem perguntar: "Porque não ia de bicicleta, se não tinha dinheiro pro ônibus?)
- Comer um cigarrete de queijo e presunto com um suco de açaí e guaraná no Marechal Center.
- Comer um docinho da Fábrica de Doces Brasil
- Comer uma picanha na pedra, com pãozinho de alho e vinagrete, acompanhada por um delicioso chopp na Churrasqueira de São Mateus.
- Pegar filme na Imagem Video Show.
- Ir na missa das 20:00 em São Mateus pra ver as meninas indo pra balada depois.
- Saber o nome de todas as transversais (lado esquerdo e direito) da Av. Rio Branco desde a Independência até a Getúlio.
- Comer um pastel na pastelaria Rolante Mexicana.
- Comer um torresmo no Bar do Bigode.
- Ter conhecido bares históricos como o "Balcão", "Meninos Geraes", "Batata Belga", "Milk Shake", "Gilbertinho´s", "Garfo e Faca", "Muhareb", "Em Kantu´s", "Piriá", "Chez Moi", entre tantos outros já extintos.
- Tomar uma coca-cola num boteco do centro da cidade.
- Ter assistido um filme no Veneza ou no Excelsior (no tempo em que os cinemas cabiam mais do que três casais e meio)
- subir o morro da Halfeld para estudar no CES (Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora).
- Estudar Processamento de Dados no CES (porque era considerado curso de homem), mas adorar as meninas da Psicologia (que era considerado curso de mulher).
- Ter feito estágio na Siderúrgica Mendes Júnior (um dos melhores na época), que depois virou Mendes Júnior Siderurgia e hoje é Parte da Belgo Mineira.
- Não conseguir esconder de todo mundo que você estava fazendo estágio na Mendes Júnior, pois inevitavelemente engordava uns 3 quilos com a ótima comida do refeitório da fábrica.
- Ir visitar um amigo e morrer de tanto comer pão de queijo, broa de milho, bolo de fubá, biscoitinho de nata, doce de leite com queijo minas, romeu e julieta... Tudo isso porque é uma tremenda desfeita recusar comida!!!!
- Conhecer a mãe de todos os seus amigos pelo primeiro nome, chamá-las de tia e ter respeito igual ao que você tem pela sua mãe. Afinal, elas são mães-interinas enquanto você estiver dentro da casa delas.
- Reunir no Largo do Alto dos Passos, em frente ao McDonald´s pra comemorar a vitória da Seleção na Copa do Mundo (1994 foi fantástico!!!)
- Ter algum grande amigo ou amiga descendente de libaneses e adorar ir na casa dele no dia de festa, porque a comida é boa demais da conta!!!
- Namorar na pracinha de São Mateus tomando sorvete.
- Tentar pegar um avião pra ir a Juiz de Fora e sempre pousar no Rio de Janeiro, porque o aeroporto está quase sempre interditado (morro, morro, morro, tempo fechado... quem decidiu o local daquele aeroporto?)

- Adorar a vista da cidade do alto do morro do Cristo.
- torcer pra um time do Rio (Flamengo até morrer!), passar Carnaval em Piúma (ES) e fazer compras de inverno em Petrópolis (RJ).

Olha, essa lista poderia ser muito maior, mas a gente tem de saber quando parar, ou a saudade acaba matando a gente...

02 outubro 2006

Carioquês - Parte 2

Aqui vai a segunda e última parte do "carioquês". Andaram me perguntando se a maior parte dessas palavras não é de uso nacional. Eu concordei que sim, mas há uma explicação que precisa ser posta.

Atualmente, no país, o maior canal de mídia e comunicação é a Rede Globo. Sem nenhuma preocupação com sua projeção nacional, a Globo acaba por massificar o falar e o conjunto de gírias brasileiras, por expor de forma tão incisiva a sociedade carioca em suas novelas, mini-séries e programas humorísticos. Essa é a razão pela qual achamos que "irado", "mano" e "véio" são de uso nacional. Essa e muitas outras gírias foram criadas no Rio de Janeiro e exportadas para outras regiões brasileiras.

Sem nenhum demérito para os cariocas ou para outras culturas em nosso país, acaba havendo assim, uma massificação. Por isso é que vocabulários como o dos mineiros, nordestinos ou gaúchos tornam-se tão peculiares e distintivos.

Não estendendo demais a introdução, trago aqui mais algumas expressões de uso carioca.

Vocabulário (continuação)

maluco - s.m. 1. cara, sujeito, indivíduo, em geral sem flexão de número, existindo somente no singular ("Não conheço aquele maluco", "Tava com uns maluco da faculdade").

mané - s.m. 1. otário, vacilão, prego, sujeito que pisa na bola.

maneiro (manero) - adj. 1. show de bola, muito legal. Também muito usado no superlativo: maneiríssimo

maraca - nenhum carioca vai ao "Estádio do Maracanã", eles vão ao "maraca"

média - s.f. 1. apenas uma xícara de café com leite, também chamado em outros estados de "pingado".

meRRRmão - s.m. 1. diz-se do nativo do Rio de Janeiro do sexo masculino, formado por aglutinação da expressão "Meu Irmão"

mó - adv. 1. usado como advérbio de intensidade, substituindo, em quase tudo, a palavra muito, é formada por redução da palavra "maior" ("mó mané", "mó otário", "mó legal", "mó manero"="maneiríssimo").

mulé - s.f. 1. usado paras os meRRRmão do sexo feminino, em geral a namorada de algum meRRRmão chegado.

parada - s.f. 1. palavra de uso genérico, de uso muito similar ao "trem" do vocabulário mineirês ("O professor ensinou uma parada bem maneira em Java.", "Assisti uma parada legal no cinema", "Esqueci uma parada em casa.").

paraíba - s.m. 1. qualquer indivíduo nascido ou residente acima do paralelo que passa por Copacabana, alguns cariocas têm um certo preconceito contra nordestinos e generalizam tudo como "paraíba". 2. Em geral usado por quem faz besteira no trânsito ("Não tá vendo que é contramão, paraíba?")

podrão - s.m. 1. típico prato da madrugada carioca. Em geral um sanduíche comprado em barraquinhas "suspeitas" (ao menos para a vigilância sanitária, pois em geral os donos são "peixe" dos meRRRmão). Esse tipo de cachorro-guente leva de tudo que você possa imaginar. Se você achou que não é possível colocar tudo, pense em algo e colocar, afinal o podrão é seu e o nome característico diz tudo, não?

porra - é importante frisar que esse vocábulo, para um carioca, não tem conotação chula, apesar de conhecerem a etimologia. 1. usada como interjeição de dor, raiva, angústia, sofrimento, morte iminente, traição, carestia, ou seja, o que você quiser ("Porra!"). 3. sinônimo que, em geral substitui "parada", mas com ar de desaprovação ou estranheza.

porrada - diferente de outros estados, não significa briga ou pancadaria, sendo usado como um coletivo genérico ("O professor deu uma porrada de zeros!", "Tinha uma porrada de gente na fila", "matilha"="porrada de câes", "enxame"="porrada de abelhas")

posto - jamais pergunte onde fica o posto mais próximo se você estiver no Rio de Janeiro, provavelmente vão ensinar-lhe como chegar a Ipanema, Leblon, Copacabana ou qualquer outra praia. No Rio de Janeiro, "posto" é como chamam os "postos de salva-vidas", e que não numerados (todo carioca sabe a localização e o número de todos os postos). Se precisar de um "posto de gasolina", seja mais específico.

prego - s.m. 1. o mesmo que mané

puRRRque - o mesmo que "porque", "por que", "porquê" e "por quê".

puto - s.m. 1. o mesmo que mané. Um gaúcho irá estranhar o uso da palavra, pois no Rio Grande do Sul é sinônimo para "viado", "bicha", "gay".

queimá a laRRRgada - sair mais cedo, em geral para almoçar.

quentinha - o mesmo que "vianda" no Rio Grande do Sul e "marmitex" em São Paulo.

rapá - rapaz. Usado para se referir à quem se fala, mas que normalmente não é um meRRRmão, é desconhecido. ("E aê rapá?")

sacode - essa sim significa briga ou pancadaria, mas em geral é definitiva. Quem toma um sacode de um meRRRmão aprende a deixar de ser mané.

sangue - redução de "sangue-bom", uma pessoa "mó" legal, gente boa e agradável, um meRRRmão maneiríssimo. Costuma-se usar também a sigla "CB" (isso mesmo: "cê-bê")

vaza - o mesmo que "vai embora daqui" ou "some da minha frente já!"

X9 - o mesmo que alcagüete, ou seja, delator.

01 outubro 2006

Carioquês - Parte 1

Lembrando que tenho alguns alunos (Daniel, João Paulo e Saulo) que irão viajar para o Rio de Janeiro em novembro próximo, e continuando a seqüência de posts de "enriquecimento cultural", decidi trazer algum auxílio a eles ou a qualquer indivíduo viajando pela "Cidade Maravilhosa". O post de hoje é a primeira parte de um pequeno dicionário básico de "carioquês", dialeto do português muito empregada na cidade do Rio de Janeiro e copiada por todo o estado fluminense e adjacências (jizdifora e spritusantu).

Um pouco da fonética
É importante mencionar que o "R" em carioquês tem uma pronúncia que pode ser denominada de "R-cedilha", pois é tão forçado na garganta (gutural, como diriam os fonéticos) que ninguém não nascido no estado do Rio de Janeiro tem capacidade fonoaudiológica para interpretar adequadamente. Um caderno convencional seria algo como cadeRRRno.

Aspecto notável também possui a pronúncia do "S" que aparece no final de uma sílaba ("S" seguido de vogal não oferece diferenças). Esse fonema é também um "S-cedilha", funcionando como um "XXX" (triplo X). Apenas para citar como exemplo, crianças cariocas ao brincar de pique-eXXXconde, conta "um, doiXXX, treXXX".

Não há na literatura nenhum registro documentado de um encontro, seguindo de comunicação oral, entre um carioca e um colono típico gaúcho (principalmente de ascendência italiana). Quem já foi a Marau, a terra do Aço, sabe o que estou dizendo (bem, eu aço que sim, mas quem sou eu pra dizer que aço que nom?).

Vocabulário
Abaixo são listados alguns exemplos de palavras e expressões comumente empregadas em solo carioca (ou veículada em novelas da Rede Globo):

- 1. Adv. define um lugar qualquer, que pode ser desde o assento de uma cadeira ("Senta aê, mané") ou até um bairro (ou favela) inteiro ("Os cana tão por aê na área) 2. Usado como vocativo pode também ser usado para chamar atenção de um merrrmão ou maluco qualquer ("Aê, meRRRmão, coé a parada?"). Obs: Dependendo da tribo que o utilizar, pode variar até para um formato de interjeição ou para uma boiolice qualquer como "aiiiiih" ou "aeeeeh".

arraXXXtão - s.m. em qualquer outro estado do país, é um tradicional tipo de pesca com rede, em geral ilegal; no carioquês, é outro meio dos meRRRmão ganharem a vida. Essa atividade profissional está tão difundida que já está sendo aberta franquias em outros países, como Portugal (vide o arrastão na Praia de Carcavelos, foto)












avenida brasil - principal via de acesso ao RJ, usada como ponto comercial, rota de entrega, local de assaltos e praça de guerra dos meRRRmão.

aXXXfalto - s.m. qualquer lugar de moradia de um meRRRmão que não seja no morro.

bolado - adj. condição de incompreensão momentânea ou preocupação em qualquer nível ("Aê, meRRRmão, tô bolado, acho que minha mulé tá me furando o olho")

bonde - s.m. 1. ônibus (ou até inventarem outro meio de transporte coletivo que seja possível trapacear). 2. Galera, turma.
("O bonde do pampa coders ficou em primeiro lugar.").

cabaço(ão) - s.m. 1. sujeito trapalhão, em geral, iniciante em algum assunto e inexperiente (virgem) em algum assunto ("Esse mané é mó cabação!")

carái - interj. 1. o mesmo que a expressão "caralho", mas sem qualquer conotação chula, indicando uma coisa legal, que impressiona, causa admiração. ("Carái, o fla ganhou a copa do brasil!!!") 2. Em uso com a preposição "pa-" (originada da contração de "pra", que por sua vez vem de "para"), significa um advérbio de intensidade ("Em Erechim tava frio pacarái.").

coé - aglutinação da expressão "qual é" ("Coé, meRRRmão?"), em geral indica desaprovação ou exaltação de ânimo.

conto - unidade monetária universal, sem plural ("A parada custa 10 conto"). O mesmo que "pila" no Rio Grande do Sul.

elevado - avenida de grande porte construída em pilares sobre as favelas (pra não dizer que as favelas foram construídas sob os elevados), hoje usada pra assaltos e engarrafamentos aéreos. O mesmo que viaduto em qualquer outro estado do país.

filé - adj. 1. Mulher muito atraente, com um "xeipe" (do inglês "shape") invejável. Etimologicamente deriva de "filé-mingnon", uma carne muito boa e macia, considerada "a melhor parte" do bovino.

furaoi - adj. (derivado de "fura-olho") 1. diz-se do indivíduo que, incapaz de conseguir realizar o coito sem pagamento, e por méritos próprios, vive de impedir o sucesso alheio. 2. em versão moderna diz-se de qualquer traidor.

íhóocaraaê - expressão que demonstra intensa desaprovação, uma maneira de dizer que um meRRRmão está fazendo besteira.

joelho - salgadinho feito com massa, presunto e queijo que os meRRRmão comem por aê. (vide foto abaixo e receitas: 1, 2)

28 setembro 2006

Rancho ou rancho?

Estava conversando com a minha esposa hoje e ela me lembrou de uma micro-história (daquelas do post anterior), a qual é a mais engraçada pra mim (a graça de um não garante a graça de outro, ok? Essa também tem a ver com as palavras que no Rio Grande do Sul são diferentes de outros lugares.

Em Porto Alegre, vendo televisão (recém comprada em promoção!), assistia aos intervalos comerciais. Uma famosa rede de supermercados anunciava "Faça qualquer compra no valor de R$ 30,00 ou mais e concorra a um rancho". Poxa, na hora eu pensei: "Que promoção fantástica!!! Vou comprar só nesse mercado pra aumentar as minhas chances!".

No dia seguinte, conversando uma amiga, a Joana, falei pra ela da promoção. Ela disse que não era grande coisa, até porque às vezes, alguns preços eram mais altos que o da concorrência. Eu falei que, mesmo assim, era uma "puta" (gíria paulista, não tem sentido chulo, apenas quer dizer "Muito", "demais", "em abundância") promoção. Afinal, o cara que ganhasse ia faturar um rancho!

A Joana começou a achar estranha a minha empolgação, e acreditou que estava havendo uma falha de comunicação entre o supermercado e eu. Perguntou pra mim o que eu esperava de um "rancho". Animadíssimo eu logo disse: "Um lugar legal, no interior, um pouco maior que um sítio, etc, etc, etc". Ela então finalizou: "Pára de sonhar com suas vaquinhas e um pomar então, porque aqui no Rio Grande do Sul, um rancho é só uma "compra do mês"...

27 setembro 2006

Um Sudestino Perdido no Rio Grande do Sul

Bem, motivado pela recente curiosidade de alguns alunos meus sobre essas diferenças culturais pelo Brasil, vou contar aqui algumas "micro-histórias" de quando vim morar em Porto Alegre e depois em Erechim. Lembro que não sou gaúcho, sou um "sudestino", refiro-me assim, com esse neologismo, pois morei, até os meus 23 anos de idade, em 4 diferentes cidades da Região Sudeste do Brasil: nasci em São Paulo, morei no Rio de Janeiro (na Ilha do Governador e em Jacarepaguá, o que significa dizer quase em cidades distintas), voltei para São Paulo, fui para Juiz de Fora e depois para Campinas (SP). Sou um sudestino.

Micro-história 1: Usando uma nova moeda.

Aniversário de Porto Alegre, festa na Redenção, há 3 semanas morando na cidade... Chega um vendedor de cerveja. Garganta seca, preciso refrescar-me. Pergunto o preço. O rapaz grita: "É dois PILA". Eu retorno "E quanto dá isso em reais?".

Micro-história 2: A voraz devoradora escravagista

Roda de amigos, uma colega acabava de voltar de Rio Grande onde morava a família dela. Parece que havia sido um ótimo final de semana, e ela contava de uma festa de aniversário de criança a qual havia ido. Ela disse: "A mesa de doces tava linda, mas nada me agradava, então fiquei ali só conversando. Na hora que chegaram os NEGRINHOS, não resisti, me atraquei e comi uns 12".
Tive um arrepio por não ter entendido nada. Ou ela era uma antropófaga com paladar selecionada para pequenos afro-descendentes; ou, POR FAVOR, aquilo era o nome de alguma iguaria... Graças a Deus, era só um inofensivo brigadeiro.

Micro-história 3: Tentando não ofender a guria

Recém-chegado, louco para conhecer as "nativas", comecei a "trovar" (xavecar, paquerar, barulhar) uma guria. Tentei ser gentil e dizer a ela "Você não é de Porto Alegre, não é? Não parece.". A minha humilde intenção era de dizer que ela não parecia com um grande número de gurias "da capital" que eu havia conhecido, muito arrogantes e metidas. Rapidamente ela disse: "Tu tá me achando com cara de COLONA?". Sem saber o que era o tal de "colona", falei que não, e expliquei rapidamente. Bem mais tarde vim a entender que, naquele contexto, "colona" seria o mesmo que "da roça", "caipira", "jeca"...

Micro-história 4: A difícil tarefa de ser professor

Primeira aula substituindo um antigo professor, no meio do semestre. Começo a conversar com a turma e tentar explicar como seria o meu método de ensino, o que iríamos usar como bibliografia, como seriam as avaliações. Pergunto se há alguma dúvida e um rapaz levanta o braço e questiona "O senhor vai usar o mesmo POLÍGRAFO do outro professor?". Colocado contra a parede por mais uma nova palavra, respondi "Rapaz, se eu soubesse o que é polígrafo, até poderia te responder, mas supondo que isso seja parte do material do outro professor, acredito que não usarei nada do material antigo. Mas o que vem a ser esse polígrafo? Você pode me mostrar?". O rapaz gentilmente mostra e eu digo "Ah, você queria dizer a APOSTILA?".

Fora essas micro-histórias, poderia citar muitas outras, é muito complicado comunicar-se também no Rio Grande do Sul. Existe um vocabulário muito específico, expressões muito particulares. Em alguns momentos chegam a ser uma nova língua. Palavras que para um gaúcho são comuns, são quase "estrangeirismos" para o restante do Brasil. Apenas para citar alguns exemplos, veja a lista abaixo:

acoar - latir (cachorro)
atacar - significa dizer que um guarda parou alguém, por exemplo numa blitz (O guarda me atacou - O quarda me parou)
auto - o mesmo que carro, automóvel (mais usado por pessoas de mais idade)
bidê - mesinha de cabeceira, criado-mudo (no resto do país, o bidê é uma das peças de louça do banheiro usada como lavatório das partes genitais e do ânus)
bolicho - casa de negócios de pequeno sortimento e de pouca importância, o mesmo que bodega.
cacetinho - pão francês, pão de sal, pãozinho
china - descendente ou mulher de índio, ou pessoa de sexo feminino que apresenta alguns dos traços característicos étnicos das mulheres indígenas. Cabloca, mulher morena. Puta. Na intimidade pode até mesmo significar a esposa querida.
chinoca - Mulher.
classe - no contexto escolar, no RS é só a mesa dos alunos, chamada em outros lugares de carteira.
cusco - Cão pequeno, cão de raça ordinária. O mesmo que guaipeca, guaipé.
guampear - trair, botar chifres ("guampa")
lâmina - no contexto acadêmico, são as transparências usadas pelo professor ou, erroneamente, slides.
pelear - batalhar, trabalhar duro por alguma coisa.
sinaleira - semáforo, farol, sinal
ximia - o mesmo que geléia (mas nunca diga isso a um gaúcho!!!)
xingar - é brigar com alguém. Qualquer tipo de reprimenda, mesmo que não tenha palavrões.

26 setembro 2006

Dicionário Prático de Mineirês

Esse blog não vive apenas de momentos profundos e reflexivos... No último post, "O Meu Lugar", perguntaram-me qual era o eu lugar... Obviamente que respondi "Juiz de Fora", mas na verdade posso dizer que quase toda Minas Gerais é o meu lugar, excetuando-se alguns lugares estranhos com gente esquisita (como diria o Eduardo, de "Eduardo e Mônica").
Caso alguém de vocês vá se aventurar a conhecer MG, recomendo fazer uma imersão em diversos aspectos culturais, especialmente a língua. Para auxiliar nesse processo, trago aqui alguns vocábulos (e algumas frases completas também) de fundamental importância no processo de comunicação mineirístico.

A
antionti - antes de ontem
B
badacama
- debaixo da cama
belzonte - belo horizonte
C
cabedipassaismánazunha
- acabei de passar esmalte nas unhas
cadim - bocadinho, um pouquinho
cadiquê - o mez qui causdiquê
casopô - caixa de isopor
causdiquê - o mez qui pucausque
cetábão - você está bom? O mesmo que "você está bem?"
cetáboa - você está boa? O mesmo que "você está bem?" para mulher
cocê - com você
concorcucê - eu concordo com você
coquincuntes - é uma coisa que acontece
credincruis - credo em cruz
D
dárripidivê
- isso dá arrepio de ver
dendapia - dentro da pia
denduforno - dentro do forno
dentifrisso - dentifrício, o mesmo que pasta de dente, embora em desuso
deu - o mesmo que "di mim": "Larga deu, ô sô!"
dicoqui - de cócoras, sentar agachado
dimais da conta - além da medida; "bom... ", muito bom, excelente
djenium - de jeito nenhum
docê - de você
dodicabes - dor de cabeça
dodistongo - dor de estômago
doidimais - doido demais
donasjunta - dor nas articulações
donofigu - dor no fígado
E
éakekiliga
- é aquele que liga
émez - é mesmo?
I
iscodidente
- escova de dente
J
jizdifora - Cidade minera "pertín do RidiJanero". O "pessoar da capitár" nunca sabe se a turma de lá é "minerin" ou carioca. Daí ficam dizendo que é terra dos "carioca do brejo".
K
kabô - acabou
kapoko - daqui a pouco
kidicarne - kilo de carne
L
lidileite - litro de leite
M
magrilin
- Indivíduo muito magro
makifalducação - mas que falta de educação
manem - de forma alguma, de jeito nenhum
mastumate - massa de tomate
midipipoca - milho de pipoca
modizê - modo de dizer, maneira de falar algo
moiá a palavra - tomar um gole, beber um gole de bebida como cachaça
N
- forma reduzida de nossinhora
nossinhora - nossa senhora
nu - versão muderna do "nó", coisa dos jeca de belzonte
nutogradanodis - não estou agradando disso, não estou gostando disso
O
onquié
- onde que é?
onquoto - onde que estou
oprocevê - olha pra você ver!
óscargualzim - olha os carros iguaizinhos
óuchero - olha o cheiro!
P
pincumel
- pinga com mel
pipocumquijim - pipoca com queijinho (qualquer hora divulgo a receita!)
pokim - pouquinho, bocadinho
pondiôns - ponto de ônibus
pradaliberdade - Praça da Liberdade
prestenção - presta atenção
procê - pra você
pron-nostaminu - para onde nos estamos indo?
pucausque - por causa de quê?
puquecetamipeguntanuissu - por que você está me perguntando isso?
Q
qentá sóli
- ficar sentado de cócoras no terreiro pegando o primeiro sol da manhã pra passar o frio
quainahora - quase na hora
S
sápassado
- Sábado passado
sessetembro - sete de setembro
T
tampar
- jogar, lançar, arremessar
tidiguerra - tiro de guerra
tissodai - tira isso dai
tradaporta - atrás da porta
trem - coisa, qualquer coisa é um trem, mas nem todo trem é uma coisa.
trudia - outro dia
tupicão - também tropicão, quer dizer tropeço.
V
vidiperfumi
- vidro de perfume

20 setembro 2006

O meu lugar

Você pode conhecer o mundo inteiro, mas só vai ser feliz e amar o lugar que conhecer por inteiro. E não digo isso geograficamente, é preciso conhecê-lo na essência. Não acredito amar um lugar sem conhecer tudo.

É preciso conhecer história, as ruas, os moradores, as escolas, as músicas, o teatro, os museus, o calçadão (se houver), o rio, o parque municipal, a praça central, o antigo prefeito, o novo padre, o pai-de-santo, o mendigo, a zona, a sacristia, o cachorro vira-lata... Uma cidade nunca é a mesma e nunca será igual novamente. E a nossa paixão, o amor por uma terra é dinâmico e cresce e muda e volta e vai e gira na mesma velocidade da lua cheia que ilumina a árvore sob a qual você aprendeu a namorar.

Conhecer o seu lugar é conhecê-lo de fora, em toda a sua ausência e saudade. Mas então talvez seja tarde e você já não more mais lá. Nem por isso deixa de ser o seu lugar amado. E para amar um lugar, não é preciso que ele seja perfeito, que ele seja eterno, ou completo. Podem faltar muitas coisas (talvez um mar), mas você sabe que pode chegar e tudo será seu pra sempre, pois é de todo mundo que ama esse lugar.

Quanto mais conheço o mundo mais amo o meu lugar. Quanto mais longe vou, mais perto estou, pois sei que o meu lugar vai comigo em meu coração. Amar o seu lugar é saber dos defeitos e pensar sempre em formas de melhorá-lo (talvez a distância o impeça de agir).

Amar o seu lugar é apresentá-lo, nem que seja em fotos, à pessoa amada e mostrar o quanto aquele pedaço de chão é importante e o quanto você o preza. Amar o seu lugar é poder um dia trazer seus filhos aos mesmos lugares em que você cresceu e falar (muitas vezes praticamente sozinho) de tudo que mudou nos últimos 10, 20, 30,..., 60 anos (já para os seus netos).

Amar o seu lugar é defendê-lo e mostrar que ninguém é melhor que ninguém, da mesma forma que nenhum lugar é melhor que outro lugar, a não ser pelos seres que o modificam, constroem, melhoram, destroem, degradam. Nenhum povo é melhor que outro povo, ele apenas é. A moral é cultural, o sol é uma questão de pele, o frio é uma questão de fogueira, o peixe nada conforme a maré. Tudo está em seu perfeito lugar e o meu lugar é em qualquer lugar do mundo, desde que meu coração leve consigo o meu lugar de verdade.

11 setembro 2006

No Caminho Certo

Muitas vezes, quando um grupo realiza um trabalho, pode ficar em dúvida se está realizando um bom trabalho ou apenas jogando esforço fora. Esse não é o caso muitos alunos daqui da URI - Campus de Erechim. Em especial, gostaria de citar os seguintes:
  • Daniel Fernando Pigatto (GoogleBoy)
  • João Paulo Orlando (BugFinder)
  • Saulo Matté Madalozzo
  • Roberto Busetto (Beto)
  • Melissa Cristina Devens (Mel)
  • Rodolfo Migon Favaretto
  • Aderson Piccoli
  • Ivan Brasil Fuzzer (Ubuntero)
  • Marcos Andre Lucas
E porque eles podem se certificar de que estão fazendo um bom trabalho? Bem, no último sábado, dia 09 de setembro, essa galera participou da Maratona de Programação da SBC (Sociedade Brasileira de Computação), ligada ao ICPC (International Collegiate Programming Contest) da ACM (Association for Computing Machinery). Mais especificamente, os 6 primeiros formaram os dois times de programação da URI - Campus de Erechim e os 3 últimos participaram na organização do evento.

Daniel, João e Saulo compuseram o time "Pampa Coders" e foram os grandes vencedores da regional que foi realizada em Erechim. Agora, esse 3 garotos, junto com o "coach" do time, o Prof. Neilor Avelino Tonin, irão para o Rio de Janeiro para a final nacional, nos dias 10 e 11 de novembro desse ano. Meus parabéns e que ampliem ainda mais essa bem sucedida participação. Melissa, Roberto e Rodolfo são o segundo time da URI - Campus de Erechim, os "Overflow". Para primeira participação eles demonstraram uma grande vontade e espírito de cooperação e colaboração raro para alunos tão novos (dois deles são do 2º semestre).

Já Anderson, Ivan e Marcos são veteranos da Maratona, foram vencedores da regional de 2005 e ficaram em 24 º colocados na final. Os três não mediram esforços em auxiliar os colegas mais novos durante todo o período de treinamento e foram decisivos, graças à sua experiência, no auxílio na organização do evento. Juntamente com o Prof. Neilor, todos puderam mostrar mais uma vez como se faz um bom trabalho e que estão no caminho certo.

O sucesso (um conceito muito mais amplo que o da simples vitória) pode ser codificado em alguns verbos: participar, colaborar, acreditar, persistir e realizar. Parabéns aos meus alunos!!!

04 setembro 2006

Reavivando com poesias

Reavivando um pouco o blog, trago uma poesia nova.

SEGUINDO SEU OLHAR

Podia por horas
seguir seus olhos
na imagem virtual.

Não seria eu nem você,
seria a vida num rodamoinho.
Seu olhar sempre meu
aprisionado em cliques
e tiques desse coração

Tudo em calma
parece apenas.
Um olhar desconcerta
a calma aparente
que vê e sente.

Um sorriso
entre mechas caidas,
distante num Da Vinci,
Moderna Lisa,
no que der na idéia.

Nem faz idéia
que vejo seu olhar
todos os dias
e preciso ver.

Que quero ter
e não poderia.
E me acalmo
só em ver
virtual imagem
só minha.

É inevitável,
parece coincidência.
É mesmo inevitável,
nem que peça a Deus
nem que diga adeus,
nem amanhã,
nem depois,
nem sempre.

Mas sempre
seguindo seu olhar,
sem culpa,
sem desculpa,
sem que saiba,
que vejo seu olhar
todos os dias
e preciso ver

14 agosto 2006

Design de um Arquiteto de Computadores

Outro dia, numa aula, um aluno meu (o Luis Carlos, mais conhecido como "Fuzi"), sugeriu de forma bem-humorada que o "arquiteto de computadores" seria o cara que faz o projeto dos gabinetes do computador. Claro que tive então de dar uma clara explicação acerca da função do "computer designer", o qual não chega bem a ser um designer do ponto de vista da criatividade artística, apenas da técnica.

Mas, como todo bom "aspirante" a computer designer, tenho minha veia artística e uma das coisas que gosto de explorar, de vez em quando, é o design de objetos. O último feito (já tem até mais de 1 ano) foi um porta CDs que mostro nas fotos a seguir.

A idéia principal era fazer uma peça que tivesse um ar de leveza, fosse prática, compacta e baseada em materiais baratos e reciclados. Acho que consegui tudo isso. O acrílico que aparece na peça ia para o lixo de uma indústria aqui de Erechim, tendo sido salvo um pouco antes por um outro aluno meu (Obrigado, Mario!). A madeira, um pedaço judiado de compensado que eu tive de sofrer para lixar também estava prestes a ir para o lixo, pois o tamanho reduzido não permitia fazer muita coisa com ela. O PVC que reveste as laterais da base é de antigas capas de apostila de encadernação (algumas da década de 90). A base é giratória e o eixo é resto de um HD velho baleado de computador.

O princípio base do projeto era o de usar a razão áurea, coisa cuja fantástica importância e aplicação na natureza aprendi outro dia. Cor neutra (preto) e transparência, para permitir o uso em qualquer decoração. As curvas tornam o projeto bastante agradável aos olhos e o eixo de HD é tão leve que faz o porta-cds girar por um tempão.

Outra hora eu trago outros objetos de design que eu andei bolando ou até mesmo umas novas idéias...

10 agosto 2006

Feito nas coxas

Bem, cada aula que um professor dá (o mais correto seria "troca") é, no meu caso, totalmente imprevisível. Os assuntos surgem em profusão e podemos falar de coisas tão distintas como escravidão e registradores de computador. E é aí que reside a riqueza da experiência da comunicação humana. Claro que dentro de padrões mínimos de organização dos assuntos.

Com relação às duas palavras que mencionei antes, a primeira palavra talvez todo mundo saiba o que é, mas a segunda nem todos. Esses tais registradores são componentes de hardware encontrados em diversos elementos de um computador, principalmente no processador que o comanda. Bem, mas como essas duas palavras tão divergentes se "uniram"?

Falávamos, numa aula de Arquitetura de Computadores, em que estudamos o projeto de computadores (não do design do gabinete), de seus componentes de hardware, sobre os princípios de projeto. Um dos princípios mais importantes é o da SIMPLICIDADE. "A simplicidade favorece a regularidade" é o princípio tão importante num projeto.

Como exemplo de simplicidade, usada na engenharia civil, temos os tijolos. A partir de um projeto simples e básico, podemos construir desde uma lareira até um arranha-céu. Do tijolo fomos para as telhas... Daí foi quando lembrei de certa vez que fui a uma cidade do nordeste, mais exatamente Porto Seguro. Numa visita guiada pelo centro histórico, vimos algumas casas que preservavam ainda umas poucas telhas originais do tempo da colônia.

Essas telhas eram irregulares, de tamanhos variados e a explicação do guia foi que elas eram moldadas nas coxas dos escravos. Obviamente como cada escravo tem uma coxa diferente do outro e a pele é macia, as telhas nunca ficavam exatamente iguais, mas com algumas ondulações e tamanhos diferentes. Ao montar o telhado, ficava uma coisa meio desorganizada, com aparência de mal feito, algo que para nós hoje é chamado de "feito nas coxas". Essa expressão ficou então como sinônimo de coisa mal feita, feita sem cuidado, sem zelo.

Taí porque é importante estudar Ciência da Computação ao invés de ficar somente num conhecimento empírico, típico do "fuçador". A Computação no mundo moderno não aceita coisas feitas nas coxas.

07 agosto 2006

Momento REORGANIZA

Bem, em início de segundo semestre e "quase reformas" em casa, estou um pouco sem tempo/inspiração para escrever no blog... Nada de estresse, mas pra escrever "meia-boca", acho melhor nem escrever...

Logo aos poucos vou voltando com alguns escritos e alguns "designs"...

17 julho 2006

Os Sem-Floresta

Over The Hedge. Os Sem-Floresta. Esse é o desenho. Muito show!!! Bem, eu não precisaria dizer mais nada, mas acho que não é assim que se fala de um filme. Poucas vezes vi um desenho/filme/documentário com um humor tão refinado. "Over The Hedge" é a crítica mais inteligente, produzida recentemente, sobre o estilo de vida consumista dos estadunidenses.

Disfarçado de desenho-engraçadinho-com-um-monte-de-bichinhos-fofos-e-graciosos, "Os Sem-Floresta" é isso mesmo, mas é também mais, e vai direto na ferida do consumismo desenfreado que assola os Estados Unidos. A sociedade neo-burguesa, capitalista, alheia às mazelas sociais do país, isola-se em seus guetos chamados "subúrbios" (lá o subúrbio é uma coisa boa), destroe o restante de matas que rodeia as grande metrópoles e inunda o país com seu lixo de embalagens e restos (não tão inúteis). Isso tudo sem falar no industrialismo que cria geringonças "super ultra inúteis consumidoras de energia não renovável".

O filme também tem um pouquinho de Brasil sim. Tem o guaxinim malandro que adora tirar vantagem dos outros e tem um certo "jeitinho" de fazer tudo parecer "correto" e "honesto". O filme é bom, pra não dizer ótimo. As crianças vão adorar, os adultos ainda mais. Impagável é a cena-clímax do esquilo viciado em cafeína!!!

14 julho 2006

Facções criminosas: públicas ou privadas?

Sou paulistano. Até pouco tempo não gostave de ser chamado de paulista, porque todo mundo que mora no ESTADO de São Paulo, e sempre houve uma rixa entre campineiros e paulistanos. Bobagem pura. tenho orgulho de ser paulistano e paulista. Mas nos últimos dias tenho tido vergonha de ter alguns conterrâneos como Geraldo Alckmim.

O que fizeram ao meu estado natal? o que fizeram com a terra da garoa? O que fizeram com a terra que move os fundamentos da riqueza nacional? Um estado a beira do caos, tomado pela marginalidade. É difícil crer que tanta gente está sendo morta e tanto patrimônio público e privado está sendo depredado sem nenhuma reação de um governo fraco, impotente e incompetente.

São dados do jornal Folha de São Paulo: desde 12 de maio, 373 atentados, 42 membros das forças de segurança e 4 civis mortos, sem falar nos 92 mortos ligados às facções criminosas. O PSDB recusa de forma veemente a ação da Força Nacional, Lula insiste em oferecer uma força inepta e fágil para deter uma onda criminosa de um dos grupos mais bem estruturados da história do país.

O que vemos, na verdade, é um embate, vazio de propósitos e ações eficientes, pelas urnas e os votos cintilantes do próximo pleito. É importante que vejamos seriamente quem desejamos para o nosso futuro e da república: um PSDB que sucateia e deixa São Paulo definhar nas mãos do crime organizado (demonstrando conivência e até mesmo cumplicidade) ou um PT já tão carcomido por todas as denúncias de corrupção e desmandos políticos.

09 julho 2006

O que leva...

O que leva um jogador como o Zidane, que fez misérias com a Seleção Brasileira, a agir daquela forma numa final de Copa do Mundo? Um cara que estava para ser consagrado como melhor jogador do mundial, simplesmente despede-se de sua carreira na seleção francesa com uma atuação totalmente oposta ao ideal do "fair play". Lamentável!

Isso me lembra o caso de alguns alunos do curso superior... Como assim? Explico. Muitos alunos julgam-se melhor que seus professores simplesmente porque são "craques" (no caso, falo da Computação) na sua área de atuação. É claro que podem, devem e tem a obrigação de serem melhores que seus professores. O mundo evolui e as novas gerações devem superar tecnica, intelectual e moralmente as anteriores. O nosso planeta não pode regredir.

Mas aí eu destaco a diferença entre o "bom aluno" (o craque) e o "auno pleno" (como o atleta pleno a exemplo de Pelé). O aluno que eu, em particular, quero ver graduado é aquele que alcança, em sua atuação na faculdade, níveis ótimos (não vamos falar em excelência) em todos os aspectos de sua formação. O aluno deve procurar dominar sua área técnica e ser o melhor possível. O aluno precisa desenvolver suas habildade de realacionamento interpessoal. A sociedade e o mercado exigem que ele tenha ótima capacidade de comunicação oral e escrita. E, sobretudo, ele deve ter conduta ética com relação a seus colegas e professores, sem deixar de lado os demais colaboradores de uma universidade.

Toda história tem dois lados: a dos perdedores e a dos vencedores. Normalmente ela pende para o lado de quem escreve, mas o futuro é muito mais sábio e cruel com aqueles que omitem a verdade ou a conduzem de forma passional, segundo seus interesses.

08 julho 2006

Graduar x Aprender

Hoje estava num almoço da turma de formandos da Ciência da Computação e acabei fazendo um comentário que me levou a pensar um pouco. Estávamos discutindo sobre achar ou não os alunos que entram na faculdade "crianças". Resumi tudo e disse que pra mim eles nasciam quando entravam no curso.

Mas por que isso? Explico. Cada pessoa que conhecemos, nasce pra nós (e somente pra nós) naquele momento. Não sei quem são, o que fizeram, o que estudaram antes de encontrar-me naquela primeira aula. Para a quase totalidade deles é a mesma coisa em relação a mim, exceto por alguns que tem parentes ou amigos que fazem o curso e acabam ouvindo sobre os professores.

É interessante o conceito de "nascimento", pois como professor, não posso naquele exato momento fazer suposições sobre o que são ou como serão. Isso será um aprendizado de ambos os lados. Espero a cada dia, contribuir para que sejam profissionais, e eles acabam me ensinando como compreender melhor a essência do estudante e seus anseios.

Ao entrar na faculdade, a maior parte dos alunos tem um nascimento profissional. Algumas "vidas" serão mais complicadas do que outras, mas é preciso estar aberto para aprender tudo e saber como usar isso. Na "vida plena", aprendemos a falar, mas a maioria a utiliza isso apenas para a comunicação convencional; alguns serão locutores, cantores, palestrantes. Aprendemos a andar, mas poucos serão jogadores profissionais ou atletas.

O que se aprende na faculdade pode ser tão trivial como andar ou falar, mas pode ser também uma ferramenta essencial. Podemos fazer de habilidades comuns uma arte. Essa é a grande diferença entre quem está na faculdade para "graduar-se" e aqueles que estão lá para "aprender".

07 julho 2006

Carteiraço é pra quem não se garante

O cidadão brasileiro tem como costume reclamar muito do fato de políticos, empresários, membros do judiciário, da polícia e militares utilizarem de sua influência para conseguir vantagens para si. A famosa tática co "carteiraço" é uma das grandes mazelas do país. Ela quebra e anula o princípio constitucional da igualdade entre os cidadãos. Ou seja, quem não tem "carteira", quem não tem QI (o famoso "Quem Indica"), sofre, pena, tem dificuldades, é preterido e muitas vezes até humilhado.

Agora, reflitamos que o famoso carteiraço não está presente apenas nas altas esferas privilegiadas do nosso país. Ele é aplicado em inúmeras situações, sendo que aponto algumas apenas para deixar claro.

Exemplo 1: Na cidade está implantado a área azul, um esquema de estacionamento rotativo pago. O vereador da cidade para defronte à casa lotérica, usando um carro público. Ele não usa o cartão de estacionamento, deixa as luzes do alerta piscando e entra no estabelecimento para fazer o seu joguinho e pagar suas contas (esperamos que com o seu próprio dinheiro). Lá dentro, usa da sua pessoa pública para indicar que precisa furar a fila. Ao voltar, a moça que controla o estacionamento, sente-se constrangida em registrar a ocorrência por 3 motivos: é um carro público, é um vereador, ele usa do famoso bordão "foi só cinco minutinhos, já voltei".

Exemplo 2: Uma boate (ou danceteria, ou barzinho, como preferirem) da cidade está na moda. Sempre lotada e com filas quilométricas, faz distinção entre os seus clientes: os VIPs e os comuns. Os VIPs entram direto, sem passar por fila e sempre conseguem mesa. Por quê? Talvez porque gastem mais. Talvez porque sejam filho(a) do(a) fulano(a) que é dono/diretor/manda-chuva de não sei onde.

Exemplo 3: Um aluno vai mal numa disciplina na faculdade, muitas vezes porque usou de subterfúgios para ser aprovado sem mérito. Fala com o professor que, eticamente, tenta conduzir suas disciplinas dentro do rigor profissional e evitar fraude, plágio e abusos. O aluno, o pai, a madrinha, ou seja lá quem for, conhece o coordenador, o diretor, o membro do conselho curador, o reitor, ou outro membro influente. Esta pessoa "comenta" o caso com o seu amigo influente, pedindo uma "opinião". Mesmo não agindo para demover o professor de sua intenção acaba provocando um mal estar geral em todas as relações.

Esses são apenas alguns exemplos do carteiraço na vida cotidiana. Pessoas que agem assim não podem ser chamadas de cidadãs. Pessoas com essa mentalidade não podem exigir respeito da sociedade. Pessoas com essa incapacidade social não podem questionar a corrupção, a desonestidade e até mesmo a marginalidade que assola nossas cidades. Evite e denuncie o carteiraço.

06 julho 2006

Plágio: a praga da universidade

Muitos acreditam que o sucateamento da universidade brasileira é a causa da baixa qualidade de muitos cursos de nível superior. Outro atribuem a causa à grande proliferação de faculdades, centros de ensino e universidades. Eu atribuo a grande totalidade do baixo nível qualitativo dos nossos egressos a apenas uma causa: o plágio.

Essa praga, definida no Houaiss como "ato ou efeito de plagiar", ou ainda "apresentação feita por alguém, como de sua própria autoria, de trabalho, obra intelectual etc. produzido por outrem" é uma palavra de origem grega (plágios) que indica "oblíquo, que não está em linha reta, que está de lado; transversal, inclinado" e, por extensão "que usa meios oblíquos; equívoco, velhaco". O plágio assola a vida cotidiana da universidade brasileira, e também os níveis fundamentais da educação em nosso país.

O plágio, antes de uma "esperteza", é, sem dúvida, uma demonstração de incapacidade, inaptidão, inferioridade intelectual, ética, moral e técnica. Um plagiador é uma pessoa que assume - embora não publicamente - sua falta de capacidade para a vida profissional e social. Assumir incapacidade não é fracasso, tentar encobri-la com o plágio, sim. O plagiador acredita, em sua ética distorcida e avessa, que foi esperto, ou que conseguiu enganar um grupo de pessoas. Ele ludibriou a sociedade, o sistema, o estado de direito como um todo.

Uma pessoa que comete o mínimo ato de plágio não tem qualquer direito ou embasamento moral para cobrar qualquer coisa que seja de qualquer pessoa, grupo, instituição ou governo. Ele está usando de meios ilícitos e imorais para obter uma certificação profissional para atuar numa sociedade da qual não tem nem mesmo o direito a participar como cidadão. Há ainda que separar a "cópia ilegal" do "plágio". Se pudermos classificar em termos de gravidade, ambas são infrações gravíssimas, mas o plágio é a instância máxima do furto, a representação mais palpável da desonestidade.

Se você é aluno e fez um plágio ou está prestes a fazê-lo, pense duas vezes. Concordo, como professor, que atualmente é difícil, em muitos casos, identificar e provar uma situação de plágio. Esse seu erro irá beneficiá-lo temporariamente, mas irá prejudicá-lo e à sociedade de forma permanente, indelével. Disse um monge budista a um amigo meu certa vez: "O pior erro é aquele que você sabe que está errando".

18 junho 2006

Os bons morrem jovens

Love In The Afternoon - Legião Urbana

"É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais"


A vida é estranha... Às vezes quase chego a acreditar naquela frase que contam pra gente quando alguém morre: "Deus quer as pessoas boas do lado dele". A despeito do fato de que muitos leitores desse blog são ou não religiosos (alguns até ateus), há uma "organização caótica e irregular" na seqüência da vida.

Por que um cara cujo único trabalho é divertir falece tão cedo? Por que o Bussunda, fazendo o que mais lhe agradava na vida, acabou indo desse mundo na flor da idade, faltando ainda tantas realizações? Por que umas criaturas como aquelas que roubam 180 milhões de brasileiros continuam vivos? Não existe um atropelamento "sem querer"? Não existe um fanático-religioso-terrorista-de-plantão-lunático que realize um atentado contra esses corruptos?

Bussunda faleceu. Pode ser que grande parte do Brasil nem mesmo desse crédito ao seu trabalho, alguns até mesmo desprezassem o que ele fazia. Mas o trabalho de um profissional do humor como ele era deve ser sempre reconhecido. A turma da "Casseta Popular" e do "Planeta Diário" revolucionou o humor brasileiro. Algo que considerávamos quase enterrado pela ditadura, foi renascido como uma fênix nas mãos ágeis e nervosas desses redatores e nas línguas ferinas dessa turma.

Foi uma grande perda. Montanha, Ronaldo Fofômeno, Luis Inácio Lula da Silva, o craque do Tabajara F.C., inúmeros personagens que irão marcar uma história. Pelo menos eu vou sentir bastante... Gosto muito de todos os Cassetas e o Bussunda, além de tudo isso, era um grande flamenguista. Um a menos contra o Vasco! Vai com Deus, Bussunda!

13 junho 2006

Um Poste em Campo

Bem, graças a Deus, nenhum jogador Croata estava bêbado, ou poderia haver um terrível acidente. Do que estou falando? Não existe aquela velha máxima de que todo bêbado atrai um poste e acontece um acidente. Aquela piadinha de "eu buzinei, mas o poste não quis sair da minha frente"? O Brasil em campo contra a Croácia, plantou um poste no meio do estádio de Berlim. Um poste de nome Ronaldo Nazário.

Essa criatura não se mexia, não se movimentava, não saia do lugar, se é que conseguiram me entender. Foi deprimente ver um jogador, com o passado que ele teve, ser incapaz de correr atrás de uma bola ou fazer qualquer outro lance que auxiliasse seus colegas em jogo.

É nitida a sua falta de preparo físico. É nítido o seu cansaço. É palpável sua rotundidade, sua adiposidade, sua excessiva corpulência (Não dá pra chamar de gordo. Ele fica ofendido). O Brasil, com a presença em campo, perdeu em agilidade, não conseguiu ligar a defesa e o ataque, travou o ataque, fez Adriano jogar por dois (por ele e por Ronaldo).

Parreira ainda tentou usar Robinho. Funcionou apenas para melhorar a movimentação, mas o garoto entrou como um menino afoito entrando num grupo de velhos apáticos... O time já estava comprometido em seu ritmo. Faltava alguém para fazer a ligação e disparar as duas metades abatidas do time.

Tudo bem, estreamos com vitória, mas é preciso fazer alguma modificação, pois essa apatia não vai levar o time muito longe.

12 junho 2006

Esquina da Poesia (do Conto) - 3

Estive alguns dias foras, parte por questões de trabalho, parte por saúde, parte por "indisposição criativa"... Mas aqui estou de volta, e hoje, como é segunda-feira, seria dia de poesia. Vou mudar um pouco. Deixo aqui um conto que escrevi há um tempo. Uma forma de homenagear o Dia dos Namorados.

DECLARAÇÃO DE NÃO-AMOR

Talvez se ela não se chamasse Adméia, ele a amaria. O grande problema, segundo o próprio Roberto, era que nunca poderia dar certo um romance entre pessoas com nomes tão distantes. Jamais eles seriam como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Simão e Teresa, ou qualquer outro casal famoso. Roberto e Adméia: não soava, era estranho, faltava algo.

Roberto descobriu então o que poderia fazer com relação a isto, ou melhor, já estava feito: ele não-amava Adméia. E assim começou o não-relacionamento entre os dois. Ele não-mandava flores par Adméia, e se mandava, nunca eram flores vermelhas, porque essa é a cor do amor, segundo a simpática moça da floricultura, uma provável doutora em cores e significados das flores. Suas cartas de não-amor eram sublimes. Ninguém conseguiria declarar mais poeticamente todo aquele não-amor. Roberto não-a-chamava para jantar, não-perguntava por ela, não-tinha ciúmes ou desilusões. O perfeito não-amor.

Mas com toda essa ausência, todo esse não-amor, aconteceu o pior a Roberto: começou a amar Adméia. Mudou a cor dos buquês, as cartas perderam toda sua beleza, veio o ciúme, abateu-lhe a desilusão. Adméia houvera se acostumado ao não-amor de Roberto e começou a corresponder a esse sentimento. Aquele moço ora sereno, tornou-se obsessivo e transtornava a vida de Adméia. Ela decidiu que a única solução era ir-se de Cachoeiro do Itapemirim. Tomou um ônibus para o Rio ou Niterói, não sei ao certo, e nunca mais foi vista por terras capixabas.

A última notícia que teve Roberto é que Adméia havia casado com um executivo francês e era mãe de dois filhos. Roberto nunca mais não-amou outra mulher.

04 junho 2006

Estamos no Limite ? (Crash)

(em agradecimento ao meu amigo Ricardo Fantinelli)

Até onde vai a intolerância humana? Até onde o racismo e o preconceito podem guiar nossas vidas? Até onde uma raça ou etnia tem prevalência sobre outra? Até onde nossos problemas pessoais podem manifestar-se numa violência gratuita contra a sociedade? Esse é o mote do fenomenal filme intitulado "Crash".

A princípio um protótipo de novela global, com muitos núcleos sociais interligados por fatalidades e casualidades, o filme desenvolve-se aos poucos como uma excelente crítica social. Latinos, orientais, muçulmanos, negros, brancos misturados em suas histórias e atividades cotidianas, fortemente permeadas pelo preconceito e pela intolerância de diversos aspectos. O filme mostra hoje o caldeirão de culturas e a diversidade de sentimentos que representa a sociedade estadunidense.

Talvez uma reflexão motivada ainda pelo "11 de setembro", "Crash" consegue mostrar que não só a cidade de Los Angeles, mas todo mundo globalizado está sofrendo de uma paz forçada. Sentimentos de desagregação social, degradação de costumes, falta de oportunidade, desesperança, impunidade e desamparo estão levando minorias pobres e imigrantes a um beco sem fim. Estão vislumbrando que o Estado outrora paternalista, regulador e provedor não pode mais protegê-los, não está mais preocupado exclusivamente com eles, mas com eles e todo o restante que pressiona externamente as fronteiras e a imagem do país.

Um roteiro muito bem montado, com excelente atores da nova geração, "Crash" não desmente a premiações dos Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original (Paul Haggis e Bobby Moresco), Melhor Edição (Hughes Winborne), além das indicações para Melhor Diretor (Paul Haggis) e Melhor Ator (Matt Dillon). Este é um daqueles filmes para serem vistos duas ou três vezes em seqüência, para ser possível abraçar todas as possíveis interpretações e apreciar cada uma das excelentes características dessa inegável obra de arte.

03 junho 2006

Bossa Nova em Alto Estilo

A despeito do fato de que muitos visitantes deste blog não gostem ou não conheçam muito da MPB, quero que saibam que sou um grande apaixonado pela Bossa Nova. Não sou, como alguns amigos, um estudioso, ou um profundo conhecedor, mas adoro. E gostaria de sugerir, para os que querem um dia conhecer, experimentar algo do que de melhor já foi produzido. Ao mesmo tempo, compartilhar a inegável constatação de que no Brasil se faz música da melhor qualidade e "os gringos" valorizam isso.

O Brasil não é só Carnaval, futebol, axé music, e outras contemporaneidades tão populares. Frank Sinatra (esse mesmo, o "the Voice", o "Blue Eyes"), o maior cantor americano até hoje, produziu uma das mais fantásticas parcerias com Tom Jobim. o resultado desse maravilhoso encontro musical pode ser constatado em "Sessions", um disco de 1979. Chet Baker, um dos mais fenomenais trompetistas do mundo, lançou, em 1966, um fantástico disco, em parceria com Bud Shank, intitulado "Brazil! Brazil! Brazil!". Nessas duas excelente coletâneas temos algumas das mais conhecidas músicas da MPB interpretadas por músicos de primeira constelação. Confiram se puderem, pois é possível achar alguns torrents dessas raridades.

Racionalistas ou Ignorantes

Bem, se sou um homem comumente conhecido pelas indagações, hoje falo de INDIGNAÇÃO. Por que algumas pessoas, pretensamente cultas e inteligentes julgam-se mais esclarecidas do que outras? Por que essa insistência em menosprezar as crenças e sentimentos de outras pessoas? O que leva um ignorante a dizer-se RACIONALISTA, quando nem sabe ao certo o significado da palavra e perverte todo o princípio cartesiano de pensamento?

Racionalismo não significa Ateísmo. Racionalismo não significa Supremacia de pensamento. Racionalismo não significa Imunidade de ação. Racionalismo não significa Verdade. O Racionalismo antes de tudo é um processo mental, uma escola de pensamento, que baseia-se no discurso, na razão e na lógica. Seu princípio baseia-se na prova de proposições. Agora, se você não tem a capacidade de provar que alguma coisa é verdade, não tem o direito de dizer que é falsa.

Será que o fato de eu não ter visto ou presenciado pessoalmente a primeira viagem à Lua, com a conseqüente alunissagem, me dá o pleno direito de dizer-lhe falsa. Pessoas que pensam assim, confundindo o racionalismo e agindo de forma quase fascista, merece no mínimo ser chamado de ignorante. Esses dias, uma pessoa pseudo-aculturada da região de Erechim teve o displante de afirmar-nos "bando de macacos". Assim agiu como que afirmando que a raça humana em pouco ou quase nada distingue-se dos primatas.

Isso eu não chamo racionalismo. Isso, pra mim, é ignorância.

02 junho 2006

Preparando-se para Sempre

Estava lembrando, hoje, de uns versos de uma música muito famosa na voz da Leila Pinheiro e de autoria do Walter Franco, intitulada "Serra do Luar". O trecho que não me sai da cabeça é esse:

"Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento"


Como sou um homem de indagações (acho que deu pra perceber, nesse blog), ficava intrigado com "mente quieta", "espinha ereta" e "coração tranquilo". O que queriam dizer essas três coisas juntas? Então lembrei de uma segunda música, do Jorge Ben Jor (salve Jorge!), intitulada "Engenho de Dentro" e que começa assim:

"Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém"

Bem, com certeza não matei a charada. Até porque o grande Jorge enfia a tal da canja de galinha no meio, e eu não sou muito fã de sopas e similares. Gastronomia à parte, o que realmente gosto nessas duas passagens musicais é o recado para colocar a prudência, a tranqüilidade antes de tudo. Espinha ereta e canja de galinha, além de tudo, são conselhos de saúde, mas tratam da prevenção.

Por tudo isso, é importante sempre pensar o hoje como um conjunto de atitudes que irão refletir, algum dia, em algum lugar. As conseqüências virão, e quanto melhor preparados, seja academicamente, seja espiritualmente, seja financeiramente (sem avareza), ou mesmo cercando-se de bons amigos, os resultados serão os melhores possíveis.

01 junho 2006

Isto Também Passará

Alguns dias são mais complicados e atribulados que outros. Creio que seja assim na vida de qualquer pessoa. O fundamental é sempre ter cabeça pra seguir. Ontem, infelizmente, não conseguir deixar uma mensagem aqui, mas hoje acho que vou tentar compensar.

Certa vez eu li uma história, acredito que seja uma lenda árabe, não sei ao certo. Um rei ganhou um anel muito valioso de um amigo. Chamou ele então todos os filósofos, sábios e eruditos de seu reino e deu-lhes uma tarefa: escrever uma frase tão pequena que pudesse ser gravada neste anel, mas ao mesmo tempo tão profunda que servisse a todos os momentos da vida, bons ou ruins.

Passou muito tempo sem que nenhum desses homens pudesse cumprir a tarefa. Alguns tinham medo de dar uma sugestão que o rei não gostasse. Outros simplesmente eram incapazes de sintetizar toda uma filosofia de vida numa pequena frase. Ainda outros não tinham noção de como incluir, em apenas um ensinamento, mensagem que fosse de alento para os momentos ruins e mensagem que fosse de júbilo para os momentos bons.

Eis que passado alguns anos, um jovem chega ao reino e, sabendo da tarefa solicitada pelo rei, vai à presença do monarca. O jovem então deixa a seguinte frase: "Isto também passará".

30 maio 2006

Que não seja imortal, posto que é chama

Este verso de Vinícius de Moraes, que dá título a esta mensagem, fez-me lembrar de outras coisas além do amor, que o "poetinha" (apelido carinhoso pelo qual os amigos o chamavam) cantou tantas vezes. Chama, labareda, fogo, fogueira, incêndio, calor, tudo que lembra consumação máxima me lembra a juventude. Essa juventude para quem o mundo parece acabar daqui a meio segundo.

Para mim, há um certo e um errado em tudo isso... O errado é fazer tudo como se nenhuma conseqüência pudesse advir de suas atitudes e palavras. O errado é esquecer de que a vida longa também pode ser linda e glamorosa, não sendo necessário ser um James Dean ou uma Janis Joplin. O certo, ah, o certo!!! O certo está justamente em não ter medo de errar...

A juventude tem de ser passional (mas sem crimes). É preciso ter amigos leais e inimigos inteligentes. É preciso brigar e lutar por ideais, sejam eles políticos, sociais, culturais ou étnicos. É preciso conhecer a lei e lutar por seus direitos (mas deixar alguns deveres sem cumprir). É preciso discutir e exaltar-se. É preciso estudar demais, cabular aula, respeitar professores, fazer-lhes caricaturas, cantar o hino, xingar o presidente. É preciso tomar um porre seguro (entre amigos de verdade). É preciso fazer poemas (mesmo que sejam horríveis). É preciso mandar flores (de preferências roubadas de um jardim). É preciso pular o muro e catar carambolas frescas.

É preciso apaixonar-se todos os dias, nem que seja pela mesma pessoa. Se forem pessoas diferentes, que seja seguro. É preciso ser traído. É preciso ser abandonado. É preciso "levar toco". É preciso ser trocado(a) por outro(a). É preciso que a juventude seja intensa em experiências, sejam elas positivas ou negativas. Com a distância do tempo, você verá que nada foi tão bom assim ou ruim demais. E o melhor hoje é poder ter boas lembranças de tudo que se fez e ter aprendido.

29 maio 2006

Esquina da Poesia - 2

Mais uma segunda-feira... Para encará-la, uma poesia. E dessa vez, romântica e apaixonada.

O PRIMEIRO MOMENTO

Amar você não é tarefa simples,
pois que a mera lembrança
de teu sorriso de estrelas
faz-me perder a razão,
acelera-me a alma,
inquieta meu coração.

Amar você é tão simples,
pois que já é uma atitude involuntária.
O compasso de meu pulso marca instantes
entre a despedida e o retorno
a teus braços ternos e amantes
onde repousa meu coração.

Amar você é nada,
nada mais que amar você,
pois que no espaço
de nosso abraço
cabe um universo.
Na leveza de nosso carinhos
cabem a Lua o Sol, a terra e o mar.
No valor de nossa paixão,
vive o eterno primeiro momento
em que teus olhos procuraram os meus,
em que minha boca sentiu falta da tua;
em que nossas vidas se tornaram uma.

28 maio 2006

Le Parkour e os guetos de Paris

Vejam como uma coisa leva a outra... Outro dia eu pesquisava na internet e descobri uns vídeos sobre uma modalidade esportiva chamada Le Parkour. É um esporte que consiste em trabalhar o corpo para superar obstáculos existentes numa paisagem urbana, conferindo ao praticante maior agilidade, controle motor e rapidez nas repostas instintivas. Do Le Parkour cheguei a conhecer um pouco sobre David Belle, um dos seus criadores e promotores pelo mundo. Do David Belle fiquei conhecendo sobre um filme em que participou, Distrito 13 (B13 - Banlieue 13).

O filme não pode se chamado de uma obra-prima e nem pode ser considerando imperdível, mas há dois aspectos que chamam atenção. A história desenrola-se numa Paris futurista, ano de 2010, na qual bairros considerados perigosos, são murados, a exemplo do Gueto de Varsóvia e da Berlim pós-2a Guerra Mundial). A entrada e a saída nesses distritos são controlados pela polícia e pelo departamento de segurança nacional.

O primeiro aspecto importante é a oportunidade de vermos David Belle demonstrando o Le Parkour na prática, em cenas extremamente incríveis e sem o uso de dublês ou efeitos especiais. O que em qualquer outro filme seria alvo de rótulos como "lenda" ou "fantasioso", aqui aparece altamente integrado à trama. É uma cena admirável que realmente prende a atenção, dada a excelência de movimentos praticados numa fuga de Leito (nome da personagem principal).

O segundo aspecto, para o qual temos de chamar mais atenção é para a preocupação social com as periferias da cidade de Paris. As pessoas pobres, em geral, filhos de imigrantes são isolados da parcela elitizada da cidade e vão tendo, aos poucos, seus direitos básicos negados, como educação, segurança, lazer, trabalho e saneamento básico. É o início de um plano de limpeza étnica.

Motivado pelos acontecimentos ocorridos no último ano e meio, em que centenas de carros eram queimados por dia e um festival de violência urbana dominava as ruas, o filme faz uma forte crítica a estas questões sociais. Não esperem um filme cabeça ou engajado, pois não é. É um filme de ação, com muitas lutas, rajadas de metralhadora, perseguição de carros. Agora, é inegável que exemplos fictícios como o do filme estão bem perto de serem tornados realidade em diversas partes do mundo, do Oriente Médio ao Rio de Janeiro, de Erechim a Los Angeles.

27 maio 2006

A Ética do Jardineiro

Diariamente nosso mundo vive dilemas éticos. Atualmente, as principais questões são relacionadas à saúde. Células-tronco, tratamentos com placebo, uso de comunidades minoritárias ou pobres, abortos consentidos, eutanásia, clonagem... Essas palavras e conceitos estão ficando comuns em nosso dia-a-dia.

Entretanto, a vulgarização destes temas não pode permitir que haja menor controle e regulamentação dos mesmos. Isso lembra o provérbio latino “Quis custodiet ipsos custode?” (quem guarda o guardião?).Uma vez que os cientistas detêm a tecnologia e são relatores dos custos e benefícios, quem vigia esse conhecimento, protegendo a sociedade? Uma vez que políticos são diariamente expostos em casos de corrupção, quem protege a sociedade de seus decretos e autorizações para pesquisas de ética duvidosa?

A sociedade brasileira ainda é iniciante ao lidar com tais questões, até porque estamos em desvantagem global em muitas áreas. Isso acaba por fazer com que a grande maioria da sociedade esteja menos vigilante para tais questões. É um resquício da mentalidade colonial: se foi aprovado na Europa e nos EUA, deve ser bom... E usamos e aceitamos e ficamos felizes.

O filme “Jardineiro Fiel”, dirigido pelo premiado brasileiro Fernando Meirelles, lida com estas questões e mostra o desrespeito com que muitas corporações transnacionais têm tratado as nações pobres e em desenvolvimento. A saúde destas pessoas é vista apenas como campo de prova para medicamentos e práticas médicas, ditas inovadoras, mas sem comprovação através de ensaios laboratoriais e baseados em metodologias tendenciosas.

Nesta história, o jardineiro perde sua esposa e sua fé no sistema em que é diplomata de carreira, mas ganha a consciência que todos precisamos ampliar, fazendo valer a qualidade de cidadão. A ética do jardineiro (assistam também a “Muito Além do Jardim”, com o genial Peter Sellers) deve imperar sobre a ética do industrial.

26 maio 2006

Em defesa da cachaça

Antes que pensem “esse cara é um alcoólatra”, explico que, antes de mais nada, sou um nacionalista e bebo apenas socialmente. A minha “defesa”, na verdade, é apenas uma constatação da tão arraigada mentalidade pseudo-européia que assola nossas classes sociais. E isso, desde a época do Brasil Colônia.

Na época de colônia e império vestiam-se no Brasil pesados casacos de lã inglesa e cartolas, acompanhados de bengalas. Claro que não podemos deixar de pesar o fator econômico dominante na época, que forçava os nossos comerciantes de tecidos e aviamentos a engolir as fazendas industrializadas na nação inglesa. Essas vestimentas nada tinham a ver com o tipo de clima brasileiro e nem com o tipo físico do cidadão da terra do pau-brasil, como bem ressalta Jô Soares na sua novela “O Xangô de Baker Street”.

Fora as vestimentas, o brasileiro sempre tentou se aculturar através de elementos que não estavam na sua raiz. A maioria sempre negou e maldisse o samba, o maxixe, a tapioca, a pamonha, o torresmo, a canoa, o guaraná e, sobretudo, a cachaça. Sim, a cachaça. Tratada quase como subproduto (primeiro produto reciclável?) da cana-de-açúcar, a cachaça sempre foi vista como bebida de nego, coisa de bugre, prazer de pobre.

Por quê? Eu não consigo responder a esta indagação, talvez algum historiador possa contribuir comigo. Perdemos e continuamos ainda a perder por não valorizar uma bebida feita exclusivamente com matéria-prima nacional e com know-how 100% nosso. Enquanto outros países valorizavam seus artigos nacionais e faziam deles marcas de divulgação cultural e produto número um na pauta de exportação, o brasileiro renegou e relegou a cachaça a um plano de coisas suja e vulgar.

A França, a Rússia, a Bélgica, a Escócia, o Japão, o Estados Unidos e os países árabes souberam valorizar suas bebidas típicas, criando um nível de excelência de forma a torná-las mundialmente conhecidas e apreciadas. Quem não sabe que um excelente champagne francês é caro? Por que há tanta adoração em torno das famosas vodkas originalmente russas? O monges belgas (trapiches) não são conhecidos por produzir algumas das melhores cervejas artesanais (e mesmo algumas em escala industrial)? E o famoso “puro malte escocês”, não é apreciado em todo o mundo? É possível ir pelo menos uma vez a um típico restaurante japonês sem provar o sakê? Qual conhecedor de bebidas não sabe da excelência dos melhores whiskies americanos? E quem vai a uma festa típicamente árabe sem morrer de curiosidade de conhecer o bom e fortíssimo arak?

A cachaça é a primeira bebida brasileira com forte apelo comercial e cultural que pode ser explorada em mercado global. A cachaça deixou de ser produzida apenas nos alambiques do pai daquele amigo na fazenda. Hoje existem especializações, qualificações profissionais e certificações de órgãos de classe dos produtores, atestando a grande qualidade, limpeza e seriedade da produção nacional. Agora, isto tudo posto, por que o próprio brasileiro permanece a considerar a cachaça como coisa de pinguço (palavra derivada de pinga, originada do fato de que a cachaça é uma bebida destilada que “pinga” lentamente durante o processo)?

Esse é um produto nacional e acredito que devemos começar a valorizá-lo. É preciso deixar de lado o preconceito e apreciar a cachaça de várias formas além da caipirinha. Isso sem contar o fato de que uma quantidade enorme de pessoas faz cara de nojo quando lhes oferecem caipirinha de cachaça, ao invés de “caipirinha de vodka” (para informação, isso não é caipirinha, é qualquer outra bebida, pois a receita da caipirinha é registrada mundialmente e conhecida por qualquer barman iniciante). Vamos começar a saborear a cachaça e distinguir o bom do mau produto. Quem quiser saber mais, consulte um dos endereços abaixo. Ah, e beba moderadamente!

Museu da Cachaça
Cachaça de Salinas
Wikipédia – Cachaça

Franco ou grosso?

Muitas vezes me pergunto: qual a diferença entre franqueza e grossura? Algumas pessoas que conheço acreditam que devem ser francas, independente de qualquer coisa. É preciso dizer a verdade mesmo que ela magoe. Ok, entendo esse ponto de vista, mas onde fica o lado humano? O compromisso com a “verdade” não significa que podemos pisar sobre os sentimentos das pessoas.

Em tudo nessa vida existe um limite. E a arte de viver, reside em saber quais são esses limites. Dizer o que se pensa sempre, em qualquer ocasião, da forma que melhor nos convém não é o mais adequado. Vejo isso pelo lado do professor que, muitas vezes, tem sob sua orientação, no cotidiano exercício da docência, pessoas que não tem vocação para o que estão se propondo a fazer.

Veja bem: eu digo vocação. Sou um fiel defensor de que todo ser humano é capaz, entretanto cada um a seu modo. Não existem pessoas burras, não existem pessoas incapazes. Existem pessoas que não descobriram sua real habilidade. Claro que sempre há os mais hábeis ou os mais preparados, mas todos PODEM. Sendo assim coloque-se no lugar de um aluno que o professor olha para ele, em meio a uma aula e diz: “Você é muito burro! O que você está fazendo aqui nesse curso? Isso não é pra você.”.

Quem não concordaria que esse “ensinante” (derrubo-o da categoria de professor) foi franco, sincero e honesto com o aluno? Mas foi também grosso, inumano, insensível, arrogante, prepotente e preconceituoso. O que aquele TAL curso tem de tão fantástico que aquele aluno não servia para ele? Aí reside a diferença entre franqueza e grossura: a compreensão e a gentileza.

Podemos dizer o que quisermos para qualquer pessoa. Basta saber COMO dizer-lhe. O trato com a linguagem é fundamental em casos como este e muitos outros. O momento, a oportunidade, o preparo da pessoa que vai nos ouvir, o local, as palavras, os argumentos, o tom de voz, o olhar desarmado, entre outros elementos, são realmente o que contarão na assimilação dessa mensagem. A mensagem em si diz pouco, a intenção e o meio de expressão dizem muito. Sermos pais, professores, chefes, líderes, supervisores, patrões exigem muito mais do que conhecimento técnico e experiência profissional, exigem preparo emocional.

24 maio 2006

A Incompetência dos Outros

Certa vez eu conversava com um aluno que fez o seguinte questionamento: "Professor, por que alguns outros professores nos tratam como idiotas?". Achei muito forte aquela pergunta e logo indaguei o porquê de tanta indignação. Ele explicou-me que um certo professor, apos ser interrompido por uma dúvida acerca da aplicação prática de uma técnica que acabara de ensinar, respondeu que o aluno não tinha necessidade de saber disso naquele momento.

Bem, não preciso nem dizer que as indignações desse aluno não pararam por aí. Ele questionou o fato de professores aplicarem provas que não ressaltavam nada mais do que a decoreba dos alunos. Ele questionou os trabalhos fáceis. Ele questionou o uso de apostilas ao invés de livros consagrados. Esse aluno não era um exemplo da massa. Até aquele momento em que conversávamos era um dos destaques do curso.

Eu tive de dar uma resposta veloz, pois sua raiva era muita, necessitava solução. E a reflexão que fiz, naquele momento, expressa a minha inquietude, até hoje, com relação a muitos (a maioria absoluta) dos alunos que chegam a um curso de nível superior. Vejam, não estou acusando, estou relatando uma constatação. Para alguns a carapuça servirá, para outros haverá indignação maior ainda que a do colega acima.

Os professores verdadeiramente comprometidos com o seu ofício, e aqui me incluo, são acionados pela ânsia e ambição de conhecimento de seus alunos demonstram. Ninguém jamais irá oferecer, profissionalmente, mais do que aquilo que o exigem. Explico. As pessoas aprendem a operar em suas habilidades profissionais na medida em que seus chefes, supervisores e mestres acionam sua capacidade, sua responsabilidade, seu compromisso com a qualidade máxima.

Se uma turma de alunos exige de um professor o melhor dele, só há duas saídas: ou ele demonstra sua real incompetência para o assunto (ou para a docência) ou ele irá evoluir e corresponder a esta expectativa. Para um professor que se enquadra no segundo caso, não há nada pior que uma turma que não corresponda ao seu desejo de ensinar. Quão frustante é ouvir reclamações de que os trabalhos são difíceis, os prazos são apertados, há muito conteúdo, a aula vai até muito tarde.

E é assim que tenho vivido minhas "noites" de docente. Muitos alunos (desculpem-me os que não se enquadram) que são incapazes de compreender a real essência e relevância de um curso superior. Muitos aluos não compreendem o impacto profundo que os 4-5 anos de curso superior poderão ter em suas vidas. O ofício, a profissão de um ser humano passa a ser, na vida adulta, tão importante quanto a família, o amor, a saúde, a espiritualidade.

É fundamental que alterem seu conceito acerca da universidade. É preponderante que exijam ser exigidos. É necessário que estejam dispostos a provar sua real capacidade, chegar ao seu limite, mostrar o que suas mentes criativas e plenas de energia podem fazer pela sociedade e pelo mundo em constante inovação. É importante que deixem a incompetência para os outros.