Estive alguns dias foras, parte por questões de trabalho, parte por saúde, parte por "indisposição criativa"... Mas aqui estou de volta, e hoje, como é segunda-feira, seria dia de poesia. Vou mudar um pouco. Deixo aqui um conto que escrevi há um tempo. Uma forma de homenagear o Dia dos Namorados.
DECLARAÇÃO DE NÃO-AMOR
Talvez se ela não se chamasse Adméia, ele a amaria. O grande problema, segundo o próprio Roberto, era que nunca poderia dar certo um romance entre pessoas com nomes tão distantes. Jamais eles seriam como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Simão e Teresa, ou qualquer outro casal famoso. Roberto e Adméia: não soava, era estranho, faltava algo.
Roberto descobriu então o que poderia fazer com relação a isto, ou melhor, já estava feito: ele não-amava Adméia. E assim começou o não-relacionamento entre os dois. Ele não-mandava flores par Adméia, e se mandava, nunca eram flores vermelhas, porque essa é a cor do amor, segundo a simpática moça da floricultura, uma provável doutora em cores e significados das flores. Suas cartas de não-amor eram sublimes. Ninguém conseguiria declarar mais poeticamente todo aquele não-amor. Roberto não-a-chamava para jantar, não-perguntava por ela, não-tinha ciúmes ou desilusões. O perfeito não-amor.
Mas com toda essa ausência, todo esse não-amor, aconteceu o pior a Roberto: começou a amar Adméia. Mudou a cor dos buquês, as cartas perderam toda sua beleza, veio o ciúme, abateu-lhe a desilusão. Adméia houvera se acostumado ao não-amor de Roberto e começou a corresponder a esse sentimento. Aquele moço ora sereno, tornou-se obsessivo e transtornava a vida de Adméia. Ela decidiu que a única solução era ir-se de Cachoeiro do Itapemirim. Tomou um ônibus para o Rio ou Niterói, não sei ao certo, e nunca mais foi vista por terras capixabas.
A última notícia que teve Roberto é que Adméia havia casado com um executivo francês e era mãe de dois filhos. Roberto nunca mais não-amou outra mulher.
12 junho 2006
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