18 junho 2006

Os bons morrem jovens

Love In The Afternoon - Legião Urbana

"É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais"


A vida é estranha... Às vezes quase chego a acreditar naquela frase que contam pra gente quando alguém morre: "Deus quer as pessoas boas do lado dele". A despeito do fato de que muitos leitores desse blog são ou não religiosos (alguns até ateus), há uma "organização caótica e irregular" na seqüência da vida.

Por que um cara cujo único trabalho é divertir falece tão cedo? Por que o Bussunda, fazendo o que mais lhe agradava na vida, acabou indo desse mundo na flor da idade, faltando ainda tantas realizações? Por que umas criaturas como aquelas que roubam 180 milhões de brasileiros continuam vivos? Não existe um atropelamento "sem querer"? Não existe um fanático-religioso-terrorista-de-plantão-lunático que realize um atentado contra esses corruptos?

Bussunda faleceu. Pode ser que grande parte do Brasil nem mesmo desse crédito ao seu trabalho, alguns até mesmo desprezassem o que ele fazia. Mas o trabalho de um profissional do humor como ele era deve ser sempre reconhecido. A turma da "Casseta Popular" e do "Planeta Diário" revolucionou o humor brasileiro. Algo que considerávamos quase enterrado pela ditadura, foi renascido como uma fênix nas mãos ágeis e nervosas desses redatores e nas línguas ferinas dessa turma.

Foi uma grande perda. Montanha, Ronaldo Fofômeno, Luis Inácio Lula da Silva, o craque do Tabajara F.C., inúmeros personagens que irão marcar uma história. Pelo menos eu vou sentir bastante... Gosto muito de todos os Cassetas e o Bussunda, além de tudo isso, era um grande flamenguista. Um a menos contra o Vasco! Vai com Deus, Bussunda!

13 junho 2006

Um Poste em Campo

Bem, graças a Deus, nenhum jogador Croata estava bêbado, ou poderia haver um terrível acidente. Do que estou falando? Não existe aquela velha máxima de que todo bêbado atrai um poste e acontece um acidente. Aquela piadinha de "eu buzinei, mas o poste não quis sair da minha frente"? O Brasil em campo contra a Croácia, plantou um poste no meio do estádio de Berlim. Um poste de nome Ronaldo Nazário.

Essa criatura não se mexia, não se movimentava, não saia do lugar, se é que conseguiram me entender. Foi deprimente ver um jogador, com o passado que ele teve, ser incapaz de correr atrás de uma bola ou fazer qualquer outro lance que auxiliasse seus colegas em jogo.

É nitida a sua falta de preparo físico. É nítido o seu cansaço. É palpável sua rotundidade, sua adiposidade, sua excessiva corpulência (Não dá pra chamar de gordo. Ele fica ofendido). O Brasil, com a presença em campo, perdeu em agilidade, não conseguiu ligar a defesa e o ataque, travou o ataque, fez Adriano jogar por dois (por ele e por Ronaldo).

Parreira ainda tentou usar Robinho. Funcionou apenas para melhorar a movimentação, mas o garoto entrou como um menino afoito entrando num grupo de velhos apáticos... O time já estava comprometido em seu ritmo. Faltava alguém para fazer a ligação e disparar as duas metades abatidas do time.

Tudo bem, estreamos com vitória, mas é preciso fazer alguma modificação, pois essa apatia não vai levar o time muito longe.

12 junho 2006

Esquina da Poesia (do Conto) - 3

Estive alguns dias foras, parte por questões de trabalho, parte por saúde, parte por "indisposição criativa"... Mas aqui estou de volta, e hoje, como é segunda-feira, seria dia de poesia. Vou mudar um pouco. Deixo aqui um conto que escrevi há um tempo. Uma forma de homenagear o Dia dos Namorados.

DECLARAÇÃO DE NÃO-AMOR

Talvez se ela não se chamasse Adméia, ele a amaria. O grande problema, segundo o próprio Roberto, era que nunca poderia dar certo um romance entre pessoas com nomes tão distantes. Jamais eles seriam como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Simão e Teresa, ou qualquer outro casal famoso. Roberto e Adméia: não soava, era estranho, faltava algo.

Roberto descobriu então o que poderia fazer com relação a isto, ou melhor, já estava feito: ele não-amava Adméia. E assim começou o não-relacionamento entre os dois. Ele não-mandava flores par Adméia, e se mandava, nunca eram flores vermelhas, porque essa é a cor do amor, segundo a simpática moça da floricultura, uma provável doutora em cores e significados das flores. Suas cartas de não-amor eram sublimes. Ninguém conseguiria declarar mais poeticamente todo aquele não-amor. Roberto não-a-chamava para jantar, não-perguntava por ela, não-tinha ciúmes ou desilusões. O perfeito não-amor.

Mas com toda essa ausência, todo esse não-amor, aconteceu o pior a Roberto: começou a amar Adméia. Mudou a cor dos buquês, as cartas perderam toda sua beleza, veio o ciúme, abateu-lhe a desilusão. Adméia houvera se acostumado ao não-amor de Roberto e começou a corresponder a esse sentimento. Aquele moço ora sereno, tornou-se obsessivo e transtornava a vida de Adméia. Ela decidiu que a única solução era ir-se de Cachoeiro do Itapemirim. Tomou um ônibus para o Rio ou Niterói, não sei ao certo, e nunca mais foi vista por terras capixabas.

A última notícia que teve Roberto é que Adméia havia casado com um executivo francês e era mãe de dois filhos. Roberto nunca mais não-amou outra mulher.

04 junho 2006

Estamos no Limite ? (Crash)

(em agradecimento ao meu amigo Ricardo Fantinelli)

Até onde vai a intolerância humana? Até onde o racismo e o preconceito podem guiar nossas vidas? Até onde uma raça ou etnia tem prevalência sobre outra? Até onde nossos problemas pessoais podem manifestar-se numa violência gratuita contra a sociedade? Esse é o mote do fenomenal filme intitulado "Crash".

A princípio um protótipo de novela global, com muitos núcleos sociais interligados por fatalidades e casualidades, o filme desenvolve-se aos poucos como uma excelente crítica social. Latinos, orientais, muçulmanos, negros, brancos misturados em suas histórias e atividades cotidianas, fortemente permeadas pelo preconceito e pela intolerância de diversos aspectos. O filme mostra hoje o caldeirão de culturas e a diversidade de sentimentos que representa a sociedade estadunidense.

Talvez uma reflexão motivada ainda pelo "11 de setembro", "Crash" consegue mostrar que não só a cidade de Los Angeles, mas todo mundo globalizado está sofrendo de uma paz forçada. Sentimentos de desagregação social, degradação de costumes, falta de oportunidade, desesperança, impunidade e desamparo estão levando minorias pobres e imigrantes a um beco sem fim. Estão vislumbrando que o Estado outrora paternalista, regulador e provedor não pode mais protegê-los, não está mais preocupado exclusivamente com eles, mas com eles e todo o restante que pressiona externamente as fronteiras e a imagem do país.

Um roteiro muito bem montado, com excelente atores da nova geração, "Crash" não desmente a premiações dos Oscar de Melhor Filme, Melhor Roteiro Original (Paul Haggis e Bobby Moresco), Melhor Edição (Hughes Winborne), além das indicações para Melhor Diretor (Paul Haggis) e Melhor Ator (Matt Dillon). Este é um daqueles filmes para serem vistos duas ou três vezes em seqüência, para ser possível abraçar todas as possíveis interpretações e apreciar cada uma das excelentes características dessa inegável obra de arte.

03 junho 2006

Bossa Nova em Alto Estilo

A despeito do fato de que muitos visitantes deste blog não gostem ou não conheçam muito da MPB, quero que saibam que sou um grande apaixonado pela Bossa Nova. Não sou, como alguns amigos, um estudioso, ou um profundo conhecedor, mas adoro. E gostaria de sugerir, para os que querem um dia conhecer, experimentar algo do que de melhor já foi produzido. Ao mesmo tempo, compartilhar a inegável constatação de que no Brasil se faz música da melhor qualidade e "os gringos" valorizam isso.

O Brasil não é só Carnaval, futebol, axé music, e outras contemporaneidades tão populares. Frank Sinatra (esse mesmo, o "the Voice", o "Blue Eyes"), o maior cantor americano até hoje, produziu uma das mais fantásticas parcerias com Tom Jobim. o resultado desse maravilhoso encontro musical pode ser constatado em "Sessions", um disco de 1979. Chet Baker, um dos mais fenomenais trompetistas do mundo, lançou, em 1966, um fantástico disco, em parceria com Bud Shank, intitulado "Brazil! Brazil! Brazil!". Nessas duas excelente coletâneas temos algumas das mais conhecidas músicas da MPB interpretadas por músicos de primeira constelação. Confiram se puderem, pois é possível achar alguns torrents dessas raridades.

Racionalistas ou Ignorantes

Bem, se sou um homem comumente conhecido pelas indagações, hoje falo de INDIGNAÇÃO. Por que algumas pessoas, pretensamente cultas e inteligentes julgam-se mais esclarecidas do que outras? Por que essa insistência em menosprezar as crenças e sentimentos de outras pessoas? O que leva um ignorante a dizer-se RACIONALISTA, quando nem sabe ao certo o significado da palavra e perverte todo o princípio cartesiano de pensamento?

Racionalismo não significa Ateísmo. Racionalismo não significa Supremacia de pensamento. Racionalismo não significa Imunidade de ação. Racionalismo não significa Verdade. O Racionalismo antes de tudo é um processo mental, uma escola de pensamento, que baseia-se no discurso, na razão e na lógica. Seu princípio baseia-se na prova de proposições. Agora, se você não tem a capacidade de provar que alguma coisa é verdade, não tem o direito de dizer que é falsa.

Será que o fato de eu não ter visto ou presenciado pessoalmente a primeira viagem à Lua, com a conseqüente alunissagem, me dá o pleno direito de dizer-lhe falsa. Pessoas que pensam assim, confundindo o racionalismo e agindo de forma quase fascista, merece no mínimo ser chamado de ignorante. Esses dias, uma pessoa pseudo-aculturada da região de Erechim teve o displante de afirmar-nos "bando de macacos". Assim agiu como que afirmando que a raça humana em pouco ou quase nada distingue-se dos primatas.

Isso eu não chamo racionalismo. Isso, pra mim, é ignorância.

02 junho 2006

Preparando-se para Sempre

Estava lembrando, hoje, de uns versos de uma música muito famosa na voz da Leila Pinheiro e de autoria do Walter Franco, intitulada "Serra do Luar". O trecho que não me sai da cabeça é esse:

"Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento"


Como sou um homem de indagações (acho que deu pra perceber, nesse blog), ficava intrigado com "mente quieta", "espinha ereta" e "coração tranquilo". O que queriam dizer essas três coisas juntas? Então lembrei de uma segunda música, do Jorge Ben Jor (salve Jorge!), intitulada "Engenho de Dentro" e que começa assim:

"Olha aí meu bem, prudência e dinheiro no bolso, canja de galinha não faz mal a ninguém"

Bem, com certeza não matei a charada. Até porque o grande Jorge enfia a tal da canja de galinha no meio, e eu não sou muito fã de sopas e similares. Gastronomia à parte, o que realmente gosto nessas duas passagens musicais é o recado para colocar a prudência, a tranqüilidade antes de tudo. Espinha ereta e canja de galinha, além de tudo, são conselhos de saúde, mas tratam da prevenção.

Por tudo isso, é importante sempre pensar o hoje como um conjunto de atitudes que irão refletir, algum dia, em algum lugar. As conseqüências virão, e quanto melhor preparados, seja academicamente, seja espiritualmente, seja financeiramente (sem avareza), ou mesmo cercando-se de bons amigos, os resultados serão os melhores possíveis.

01 junho 2006

Isto Também Passará

Alguns dias são mais complicados e atribulados que outros. Creio que seja assim na vida de qualquer pessoa. O fundamental é sempre ter cabeça pra seguir. Ontem, infelizmente, não conseguir deixar uma mensagem aqui, mas hoje acho que vou tentar compensar.

Certa vez eu li uma história, acredito que seja uma lenda árabe, não sei ao certo. Um rei ganhou um anel muito valioso de um amigo. Chamou ele então todos os filósofos, sábios e eruditos de seu reino e deu-lhes uma tarefa: escrever uma frase tão pequena que pudesse ser gravada neste anel, mas ao mesmo tempo tão profunda que servisse a todos os momentos da vida, bons ou ruins.

Passou muito tempo sem que nenhum desses homens pudesse cumprir a tarefa. Alguns tinham medo de dar uma sugestão que o rei não gostasse. Outros simplesmente eram incapazes de sintetizar toda uma filosofia de vida numa pequena frase. Ainda outros não tinham noção de como incluir, em apenas um ensinamento, mensagem que fosse de alento para os momentos ruins e mensagem que fosse de júbilo para os momentos bons.

Eis que passado alguns anos, um jovem chega ao reino e, sabendo da tarefa solicitada pelo rei, vai à presença do monarca. O jovem então deixa a seguinte frase: "Isto também passará".