20 setembro 2006

O meu lugar

Você pode conhecer o mundo inteiro, mas só vai ser feliz e amar o lugar que conhecer por inteiro. E não digo isso geograficamente, é preciso conhecê-lo na essência. Não acredito amar um lugar sem conhecer tudo.

É preciso conhecer história, as ruas, os moradores, as escolas, as músicas, o teatro, os museus, o calçadão (se houver), o rio, o parque municipal, a praça central, o antigo prefeito, o novo padre, o pai-de-santo, o mendigo, a zona, a sacristia, o cachorro vira-lata... Uma cidade nunca é a mesma e nunca será igual novamente. E a nossa paixão, o amor por uma terra é dinâmico e cresce e muda e volta e vai e gira na mesma velocidade da lua cheia que ilumina a árvore sob a qual você aprendeu a namorar.

Conhecer o seu lugar é conhecê-lo de fora, em toda a sua ausência e saudade. Mas então talvez seja tarde e você já não more mais lá. Nem por isso deixa de ser o seu lugar amado. E para amar um lugar, não é preciso que ele seja perfeito, que ele seja eterno, ou completo. Podem faltar muitas coisas (talvez um mar), mas você sabe que pode chegar e tudo será seu pra sempre, pois é de todo mundo que ama esse lugar.

Quanto mais conheço o mundo mais amo o meu lugar. Quanto mais longe vou, mais perto estou, pois sei que o meu lugar vai comigo em meu coração. Amar o seu lugar é saber dos defeitos e pensar sempre em formas de melhorá-lo (talvez a distância o impeça de agir).

Amar o seu lugar é apresentá-lo, nem que seja em fotos, à pessoa amada e mostrar o quanto aquele pedaço de chão é importante e o quanto você o preza. Amar o seu lugar é poder um dia trazer seus filhos aos mesmos lugares em que você cresceu e falar (muitas vezes praticamente sozinho) de tudo que mudou nos últimos 10, 20, 30,..., 60 anos (já para os seus netos).

Amar o seu lugar é defendê-lo e mostrar que ninguém é melhor que ninguém, da mesma forma que nenhum lugar é melhor que outro lugar, a não ser pelos seres que o modificam, constroem, melhoram, destroem, degradam. Nenhum povo é melhor que outro povo, ele apenas é. A moral é cultural, o sol é uma questão de pele, o frio é uma questão de fogueira, o peixe nada conforme a maré. Tudo está em seu perfeito lugar e o meu lugar é em qualquer lugar do mundo, desde que meu coração leve consigo o meu lugar de verdade.

5 comentários:

Anônimo disse...

Afinal, Adário, o teu lugar tem nome?

Alexandro Magno dos Santos Adário disse...

Daniel,

Para aqueles que me conhecem um pouquinho, sabem que o "meu lugar" é Juiz de Fora. Eu só não escrevo no texto para que ele se torne mais "universal".

Anônimo disse...

Imaginei. Perguntei apenas porque você fala tão bem de determinados lugares, que acabei ficando em dúvida.

Anônimo disse...

Muito interessante seu texto, penso...assim como uma música um lugar também carrega uma parte de nossas vidas, essa frase que você citou "...Amar o seu lugar é poder um dia trazer seus filhos aos mesmos lugares em que você cresceu..." acho que resume muitas coisas.
O fato de observar uma foto, ou até mesmo, sentar num banco de praça, e poder relembrar sua passagem por alí 5...10...15 anos atraz, é muito emotivo. Da mesma forma é visitar sua antiga casa de infância, seu antigo quarto e a sala de jantar, pra mim, recordações iguais praticamente não existem.

Andre Almeida disse...

Acho que todos temos um lugar. E as vezes não é uma cidade, pode ser um lugarzinho alí sem importancia mas que para a pessoa diz muito.

Eu tenho o meu lugar também, vou muito pouco lá, mas é o meu lugar. O meu sítio em pisa miglio, pertinho de onde a Doriane morava. =)

Lá sem dúvida é o meu lugar, e lá é onde eu sempre posso encontrar eu mesmo.