27 maio 2006

A Ética do Jardineiro

Diariamente nosso mundo vive dilemas éticos. Atualmente, as principais questões são relacionadas à saúde. Células-tronco, tratamentos com placebo, uso de comunidades minoritárias ou pobres, abortos consentidos, eutanásia, clonagem... Essas palavras e conceitos estão ficando comuns em nosso dia-a-dia.

Entretanto, a vulgarização destes temas não pode permitir que haja menor controle e regulamentação dos mesmos. Isso lembra o provérbio latino “Quis custodiet ipsos custode?” (quem guarda o guardião?).Uma vez que os cientistas detêm a tecnologia e são relatores dos custos e benefícios, quem vigia esse conhecimento, protegendo a sociedade? Uma vez que políticos são diariamente expostos em casos de corrupção, quem protege a sociedade de seus decretos e autorizações para pesquisas de ética duvidosa?

A sociedade brasileira ainda é iniciante ao lidar com tais questões, até porque estamos em desvantagem global em muitas áreas. Isso acaba por fazer com que a grande maioria da sociedade esteja menos vigilante para tais questões. É um resquício da mentalidade colonial: se foi aprovado na Europa e nos EUA, deve ser bom... E usamos e aceitamos e ficamos felizes.

O filme “Jardineiro Fiel”, dirigido pelo premiado brasileiro Fernando Meirelles, lida com estas questões e mostra o desrespeito com que muitas corporações transnacionais têm tratado as nações pobres e em desenvolvimento. A saúde destas pessoas é vista apenas como campo de prova para medicamentos e práticas médicas, ditas inovadoras, mas sem comprovação através de ensaios laboratoriais e baseados em metodologias tendenciosas.

Nesta história, o jardineiro perde sua esposa e sua fé no sistema em que é diplomata de carreira, mas ganha a consciência que todos precisamos ampliar, fazendo valer a qualidade de cidadão. A ética do jardineiro (assistam também a “Muito Além do Jardim”, com o genial Peter Sellers) deve imperar sobre a ética do industrial.

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