02 outubro 2006

Carioquês - Parte 2

Aqui vai a segunda e última parte do "carioquês". Andaram me perguntando se a maior parte dessas palavras não é de uso nacional. Eu concordei que sim, mas há uma explicação que precisa ser posta.

Atualmente, no país, o maior canal de mídia e comunicação é a Rede Globo. Sem nenhuma preocupação com sua projeção nacional, a Globo acaba por massificar o falar e o conjunto de gírias brasileiras, por expor de forma tão incisiva a sociedade carioca em suas novelas, mini-séries e programas humorísticos. Essa é a razão pela qual achamos que "irado", "mano" e "véio" são de uso nacional. Essa e muitas outras gírias foram criadas no Rio de Janeiro e exportadas para outras regiões brasileiras.

Sem nenhum demérito para os cariocas ou para outras culturas em nosso país, acaba havendo assim, uma massificação. Por isso é que vocabulários como o dos mineiros, nordestinos ou gaúchos tornam-se tão peculiares e distintivos.

Não estendendo demais a introdução, trago aqui mais algumas expressões de uso carioca.

Vocabulário (continuação)

maluco - s.m. 1. cara, sujeito, indivíduo, em geral sem flexão de número, existindo somente no singular ("Não conheço aquele maluco", "Tava com uns maluco da faculdade").

mané - s.m. 1. otário, vacilão, prego, sujeito que pisa na bola.

maneiro (manero) - adj. 1. show de bola, muito legal. Também muito usado no superlativo: maneiríssimo

maraca - nenhum carioca vai ao "Estádio do Maracanã", eles vão ao "maraca"

média - s.f. 1. apenas uma xícara de café com leite, também chamado em outros estados de "pingado".

meRRRmão - s.m. 1. diz-se do nativo do Rio de Janeiro do sexo masculino, formado por aglutinação da expressão "Meu Irmão"

mó - adv. 1. usado como advérbio de intensidade, substituindo, em quase tudo, a palavra muito, é formada por redução da palavra "maior" ("mó mané", "mó otário", "mó legal", "mó manero"="maneiríssimo").

mulé - s.f. 1. usado paras os meRRRmão do sexo feminino, em geral a namorada de algum meRRRmão chegado.

parada - s.f. 1. palavra de uso genérico, de uso muito similar ao "trem" do vocabulário mineirês ("O professor ensinou uma parada bem maneira em Java.", "Assisti uma parada legal no cinema", "Esqueci uma parada em casa.").

paraíba - s.m. 1. qualquer indivíduo nascido ou residente acima do paralelo que passa por Copacabana, alguns cariocas têm um certo preconceito contra nordestinos e generalizam tudo como "paraíba". 2. Em geral usado por quem faz besteira no trânsito ("Não tá vendo que é contramão, paraíba?")

podrão - s.m. 1. típico prato da madrugada carioca. Em geral um sanduíche comprado em barraquinhas "suspeitas" (ao menos para a vigilância sanitária, pois em geral os donos são "peixe" dos meRRRmão). Esse tipo de cachorro-guente leva de tudo que você possa imaginar. Se você achou que não é possível colocar tudo, pense em algo e colocar, afinal o podrão é seu e o nome característico diz tudo, não?

porra - é importante frisar que esse vocábulo, para um carioca, não tem conotação chula, apesar de conhecerem a etimologia. 1. usada como interjeição de dor, raiva, angústia, sofrimento, morte iminente, traição, carestia, ou seja, o que você quiser ("Porra!"). 3. sinônimo que, em geral substitui "parada", mas com ar de desaprovação ou estranheza.

porrada - diferente de outros estados, não significa briga ou pancadaria, sendo usado como um coletivo genérico ("O professor deu uma porrada de zeros!", "Tinha uma porrada de gente na fila", "matilha"="porrada de câes", "enxame"="porrada de abelhas")

posto - jamais pergunte onde fica o posto mais próximo se você estiver no Rio de Janeiro, provavelmente vão ensinar-lhe como chegar a Ipanema, Leblon, Copacabana ou qualquer outra praia. No Rio de Janeiro, "posto" é como chamam os "postos de salva-vidas", e que não numerados (todo carioca sabe a localização e o número de todos os postos). Se precisar de um "posto de gasolina", seja mais específico.

prego - s.m. 1. o mesmo que mané

puRRRque - o mesmo que "porque", "por que", "porquê" e "por quê".

puto - s.m. 1. o mesmo que mané. Um gaúcho irá estranhar o uso da palavra, pois no Rio Grande do Sul é sinônimo para "viado", "bicha", "gay".

queimá a laRRRgada - sair mais cedo, em geral para almoçar.

quentinha - o mesmo que "vianda" no Rio Grande do Sul e "marmitex" em São Paulo.

rapá - rapaz. Usado para se referir à quem se fala, mas que normalmente não é um meRRRmão, é desconhecido. ("E aê rapá?")

sacode - essa sim significa briga ou pancadaria, mas em geral é definitiva. Quem toma um sacode de um meRRRmão aprende a deixar de ser mané.

sangue - redução de "sangue-bom", uma pessoa "mó" legal, gente boa e agradável, um meRRRmão maneiríssimo. Costuma-se usar também a sigla "CB" (isso mesmo: "cê-bê")

vaza - o mesmo que "vai embora daqui" ou "some da minha frente já!"

X9 - o mesmo que alcagüete, ou seja, delator.

5 comentários:

Anônimo disse...

Uma dúvida:
Pq se usa "CB"? Não seria "SB"?

DP disse...

Vamos nos lembrar que não devemos pedir apenas por posto no RJ em Novembro! Huahauhuaha..

Bem legal o vocabulário.. Qual vai ser o próximo?
xD

Alexandro Magno dos Santos Adário disse...

Bem, como toda gíria, não teria de ter "muito" sentido... Mas CB é uma forma mais fonética de dizer, até porque "S" soa "ésse" e "C" "cê", então, ao invés de "ésse-bê", fica mais sonoro "cê-bê".

É igual quando a gente fala "jb" (também na gíria do sudeste), querendo significar "Gente Boa", o "J" é mais sonoro que "G". Afora o fato de que existe a lendária frase de um jogador de futebol que disse que estava tudo "GG: joinha, joinha"... Coisas da cultura popular... :-)

Anônimo disse...

Adorei os verbetes. Me lembrei do Dicionário de Portoalegrês do Luis Augusto Fischer...
Beijo, Jô

Anônimo disse...

Isso tudo é massa...gostei das
gírias.