Eu devia ter uns 5 anos naquela época, quando decidi que jamais aceitaria qualquer coisa que eu não pudesse entender. A situação que me motivou a isso em idade tão tenra foi um aula de religião ainda na pré-escola. Naquela época, já havia começado a desenvolver-se em mim minhas preferências musicais e minha sensibilidade para as artes.
Gostava muito de ouvir e ver cantar a inesquecível e moreníssima Clara Nunes, com o chocalho de Angola amarrado na canela. Clara era uma cantora iluminada, uma pessoa cujo sorriso podia encantar até o mais rude marginal. Clara era alegria, sensualidade, paz, magia, bondade numa demonstração única de um ser que com certeza tinha inclinação e atitude de caridade, honestidade, altruísmo e verdade. Clara era adepta de religiões afro-brasileiras. Não consigo lembrar-me agora se era umbanda, candomblé, quimbanda, macumba ou qualquer outra similar.
Apenas uma certeza me tomou o coração: ela era uma pessoa boa e sua religião deveria pregar isso. Era um exemplo que me dava certeza. Isso ia de encontro às palavras que ouvia naquela aula de religião a que eu assistira: umbanda era coisa de gente que gostava do diabo. Como? Isso mesmo. Era totalmente incompatível, mesmo para mim, o conceito de que alguém tão iluminada e cheia de paz e doçura nos gestos e palavras podia ser uma adoradora do diabo.
Mas esta era a idéia que a igreja católica e a grande maioria de seus adeptos tenta passar a centenas de anos: tudo que é fora da Igreja não é de Deus. Mataram bruxas, sacrificaram hereges, queimaram o conhecimento da antiguidade, desvirtuaram as ciências, controlaram a política. Isso fez a Igreja nesses 2000 anos. Mas não só ela, mas todas as demais religiões repletas de fanáticos e seres mesquinhos e ambiciosos.
De tempos em tempos isso se repete, com maior ou menor intensidade. Por isso mesmo recomendo a todos que assistam, independente do credo que professem, assistam ao filme Código da Vinci. Seja um bom filme ou não (em outra ocasião farei meu comentário sobre o mesmo), ele questiona, ele pergunta, ele tira novas conclusões. Filmes como Código Da Vinci, Je Vous Salue Marie, A Última Tentação de Cristo e O Nome da Rosa são questionadores e devem ser vistos e revistos.
Filmes como estes não só nos fazem sacudir os conceitos e dogmas arraigados em nossa cultura pessoal. Sacudí-los nos faz tirar a poeira deles e verificar a utilidade dos mesmos. E são três caminhos a seguir: deixar como está (a atitude mais covarde e comodista), jogar fora (o que normalmente é feito com itens inúteis) ou reciclar o uso (renovar, resgatar, reconquistar para si).
Será que a relutância em confrontar esse dogmas não está justamente fundamentada no medo de ter que "jogar fora". Isso pode mudar uma vida, isso pode mudar toda nossa visão de quem somos. Questione-se, questione sua sociedade, seus conhecimentos, seu mundo. O resultado será muito positivo.
20 maio 2006
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3 comentários:
Olá Adário.. Super interessante esse seu post. Eu li ele todo e acho que alguns questionamentos que você colocou são os mesmo que eu mesmo já me fiz ou quando estava conversando com minha namorada que não e católica. Estou loco pra ver esse filme que ao meu ver pode ser um ficção, mas uma ficção feita em cima de fatos que aconteceram. Porque a igreja escondeu centenas de manuscritos de Leonardo Da Vinci por séculos, a 400 anos atraz ele já tinha o projeto de que seria um robo, que hoje a NASA utiliza no espaço com os mesmos principios de Da Vinci. Agora me pergunto, ele era um homen na época errada ou ele era um homen errado para aquela época. Ja vi o filme em O Nome da Rosa mas faz tempo, vou catar ele para rever novamente e vou procurar os outros filmes também.
Excelente questionamento Adário. Um Abraço..
é como eu falei, Marcos: O Código Da Vinci vale pelo questionamento. Isso sim é sua maior contribuição.
Foi de questionamentos que originou-se a minha busca pela verdade. Há alguns anos eu vinha me perguntando o que era certo.
Por quê precisávamos acreditar em um Deus que nunca se mostrava para nós?
Por quê a Igreja Católica era correta, se é a pior besteira você adorar matéria morta como sendo TUDO?
Pensei em tanta coisa e cheguei à perfeita conclusão: é tudo mentira! Agora, pra mim a Bíblia não tem significado algum, estamos aqui por conta do evolucionismo e 'deuses' são meras criações da mente humana.
A minha posição de ateu, apesar de tudo, não me proíbe de ver o filme ou de ler o livro citado no post. Pelo contrário, quero muito que a repercussão seja bastante grande e bem reveladora, para o mundo deixar de sofrer tanto.
Enfim, sobre o post, muito "em boa hora".
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