Certa vez eu conversava com um aluno que fez o seguinte questionamento: "Professor, por que alguns outros professores nos tratam como idiotas?". Achei muito forte aquela pergunta e logo indaguei o porquê de tanta indignação. Ele explicou-me que um certo professor, apos ser interrompido por uma dúvida acerca da aplicação prática de uma técnica que acabara de ensinar, respondeu que o aluno não tinha necessidade de saber disso naquele momento.
Bem, não preciso nem dizer que as indignações desse aluno não pararam por aí. Ele questionou o fato de professores aplicarem provas que não ressaltavam nada mais do que a decoreba dos alunos. Ele questionou os trabalhos fáceis. Ele questionou o uso de apostilas ao invés de livros consagrados. Esse aluno não era um exemplo da massa. Até aquele momento em que conversávamos era um dos destaques do curso.
Eu tive de dar uma resposta veloz, pois sua raiva era muita, necessitava solução. E a reflexão que fiz, naquele momento, expressa a minha inquietude, até hoje, com relação a muitos (a maioria absoluta) dos alunos que chegam a um curso de nível superior. Vejam, não estou acusando, estou relatando uma constatação. Para alguns a carapuça servirá, para outros haverá indignação maior ainda que a do colega acima.
Os professores verdadeiramente comprometidos com o seu ofício, e aqui me incluo, são acionados pela ânsia e ambição de conhecimento de seus alunos demonstram. Ninguém jamais irá oferecer, profissionalmente, mais do que aquilo que o exigem. Explico. As pessoas aprendem a operar em suas habilidades profissionais na medida em que seus chefes, supervisores e mestres acionam sua capacidade, sua responsabilidade, seu compromisso com a qualidade máxima.
Se uma turma de alunos exige de um professor o melhor dele, só há duas saídas: ou ele demonstra sua real incompetência para o assunto (ou para a docência) ou ele irá evoluir e corresponder a esta expectativa. Para um professor que se enquadra no segundo caso, não há nada pior que uma turma que não corresponda ao seu desejo de ensinar. Quão frustante é ouvir reclamações de que os trabalhos são difíceis, os prazos são apertados, há muito conteúdo, a aula vai até muito tarde.
E é assim que tenho vivido minhas "noites" de docente. Muitos alunos (desculpem-me os que não se enquadram) que são incapazes de compreender a real essência e relevância de um curso superior. Muitos aluos não compreendem o impacto profundo que os 4-5 anos de curso superior poderão ter em suas vidas. O ofício, a profissão de um ser humano passa a ser, na vida adulta, tão importante quanto a família, o amor, a saúde, a espiritualidade.
É fundamental que alterem seu conceito acerca da universidade. É preponderante que exijam ser exigidos. É necessário que estejam dispostos a provar sua real capacidade, chegar ao seu limite, mostrar o que suas mentes criativas e plenas de energia podem fazer pela sociedade e pelo mundo em constante inovação. É importante que deixem a incompetência para os outros.
24 maio 2006
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Um comentário:
Isso eu aprendi, infelizmente, quando eu estava no segundo ano do curso quando em uma aula normal o Gran'Mestre Adário chegou com uma reportagem onde relatava a fraca percepção, por parte dos alunos, do conceito de ensino superior, inclusive citava o exemplo de ensino superior em universidades como Havard. Discutimos o artigo por uma aula inteira e após isso acredito que grande parte da turma parou de reclamar dos trabalhos difíceis de Arquitetura de Computadores I. heheheh
Abraço MSc.Adário, aprendi muito contigo.
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