20 julho 2007

Contra o Bloqueio de Celulares

O bloqueio de celulares é tão absurdo que chega a ser ridículo. Fere todos os princípios mais básicos do CDC (Código de Defesa do Consumidor). Qualquer empresa está apta a estabelecer seu preço para qualquer produto que comercialize, desde que não haja monopólio e não seja um bem essencial à vida.

Os contratos pós-pagos efetuados com as companhias de telefonia móvel já são, na prática, tecnicamente abusivos, mas são permitidos. Alguns desses contratos estipulam que o consumidor tenha que manter seu plano de telefonia geralmente por 24 meses ou até mais. Toda companhia telefônica sabe que esse contrato poderia, em muitos casos ser até mesmo quebrado, perdendo assim o valor investido no aparelho.

Entretanto, não há qualquer embasamento jurídico ou pragmático que justifique o bloqueio dos celulares. Apenas para entender o quão absurdo isso, imagine as seguintes situações hipotéticas:

  • Rede Globo vende televisores por apenas R$ 1,00. Você compra o seu televisor numa loja Rede Globo e ele já vem pré-programado para acessar (ligar) no Faustão, no Fantástico e na novela das oito (atualmente "das nove").
    Efeitos adversos: Ao comprá-lo você descobre que não existe botão de sintonia para mudança de canais e o seu televisor só "pega" Globo!


  • Ford e Petrobrás celebram novo acordo de parceria. Agora você compra seu carro por um valor muito menor que o da concorrência e paga apenas R$ 0,50 o litro da gasolina em qualquer posto BR.
    Letras miúdas: os sensores de injeção de gasolina analisam quimicamente a composição especial da nova gasolina Ford-Petrobrás e o seu carro só vai funcionar abastecido com ela.
    Efeitos adversos: seu Ka mil faz algo como 7 km/l, na estrada!



  • Não vale mais a pena comprar computadores do Paraguai, Dell, Microsoft e UOL estão vendendo o novo computador do bilhão: você paga apenas R$ 50,00 por um Pentium Dual Core, com 2 GB de RAM, 320 GB de HD, tela LCD de 19" e gravador de DVD Dual-Layer. O seu novo computador MS-Dell-UOL vem com o novo Windows Vista pré-instalado e internet ADSL UOL pré-configurada e ativa. Basta ligar na tomada e começar a acessar a internet.
    Letras miúdas: Você precisa assinar o plano Profissional UOL pela bagatela de R$ 50,00 mensais por 5 anos. Além disso há um contrato exclusivo de atualizações do seu Windows Vista de apenas R$ 10,00 por mês, mais R$ 500,00 por novas versões do sistema operacional.
    Efeitos adversos: o hardware bloqueia qualquer tentativa de usar outro provedor, não permite a instalação de outro sistema operacional e somente softwares da Microsoft rodam no seu computador.
O bloqueio é similar a essas situações acima, apesar de parecerem absurdas... Mas você pensa: Pôxa, o celular é tão mais barato! Mas o celular poderia ficar ainda mais barato, bem como as tarifas caso haja um livre comércio de aparelhos e uma livre negociação de planos.
Visite o site da campanha Bloqueio Não!

24 maio 2007

Internauta, Reze pra Santo Isidoro


Você pode até não saber o que está fazendo na Internet, mas com certeza existe alguém olhando por você... Santo Isidoro de Sevilha é o padroeiro dos BONS usuários da Internet. Tem até oração:

Deus eterno e todo-poderoso, que nos criou à sua imagem e semelhança e nos fez procurar tudo o que é bom, verdadeiro e belo, especialmente na divina pessoa de Seu Filho unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, permita-nos que, através da intercessão de Santo Isidoro, bispo e doutor, durante nossas jornadas pela Internet, nós dirijamos nossas mãos e olhos apenas ao que é agradável a Vós e tratemos com caridade e paciência todas as almas que encontremos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

Além da Internet, Santo Isidoro também é considerando patrono da computação e dos estudantes. Essa homenagem é devido ao fato de que ele foi considerado, por excelência, o "Doutor da Igreja" e um grande enciclopedista. Sua relação sacra com a computação baseia-se no fato de ele ter criado sistemas para classificação de dados em suas enciclopédias. Quem quiser acender uma vela ou fazer uma promessa, ou mesmo uma quermesse em homenagem ao santo, o dia dele é 04 de abril (04/04 ou ainda 00000100/00000100 ou 0x04/0x04, quem sabe binário e hexa entende o que eu digo...)

Então, da próxima vez que o seu PC com Windows trancar, ou aquele download estiver muito lento, ou ainda se você espera, por milagre, que sua conexão discada torne-se uma ADSL ilimitada, reza pra Santo Isidoro...

16 maio 2007

Mistérios Matemáticos

Sub-título (sugestão de um aluno meu): Site Misterioso em Javascript + Macumba

Não sou um especialista em matemática, mas às vezes o pessoal que coloca algumas coisas na internet acha realmente que a gente é ignorante. Com freqüência recebo indicação de links de sites ou comunidades no orkut nas quais alguém descobriu "o terceiro segredo de Fátima" na matemática.
Na verdade a maior parte deles não passam de brincadeiras antigas de "ilusionismo", na qual trabalha operações matemáticas que as pessoas demoram a validar a contra-prova. A exemplo desse aqui:

http://www.vwgdesign.com.br/vwgdesign/pop_trab_acad_pensamentos2.htm

Matematicamente é muito fácil explicar o que acontece:
- Toda vez que você escolhe um número com 2 algarismos, está optando, por assim dizer, por um número com o seguinte formato:
du : onde "d" é o algarismo das dezenas e o "u" é o algarismo das unidades.

- A "brincadeira" pede para você subtrair os dois algarismos do número original
du - d - u = y

- perceba então o que acontece: ao subtrair "u" de "du", o resultado é sempre um número do tipo "d0", ou seja, sempre um múltiplo de 10 (10 * d).

- agora, quando você subtrai "d" de "d0", está na verdade conseguindo um valor "y" que é um múltiplo de 9, pois é equivalente a ter feito:
10 * d - 1 * d = 9 * d

- Se prestar atenção na tabela que aparece no site, verá que os números múltiplos de 9 têm todos o mesmo símbolo, o qual eles mudam constantemente, para tornar a magia mais interessante e dificultar um pouco a descoberta.

- Desfeita a "mágica".

15 maio 2007

Liberdade e Libertinagem

Nos idos de 1989, quando entrei no já extinto (graças à "maravilhosa" LDB de 1996) curso de Informática Industrial do CTU da UFJF, tive aula, logo no primeiro ano, com a Prof. Maria Inês (acredito que é assim a grafia correta), nas disciplinas de EMC (Educação Moral e Cívica) e OSPB (Organização Social e Política Brasileira). A despeito de toda carga histórica de demagogia e relação com a didatura, uma coisa aprendi com aquela professora nesses espaços de "civismo" e "moral": Liberdade não rima com libertinagem.

Para ela e para mim, como ficou marcado, é possível criar e estimular um ambiente de liberdade aos alunos sem que se descambe para a sacanagem (libertinagem = liberdade + sacanagem). O que ela quis dizer é que devemos, como professores, criar um ambiente para os nossos alunos pensarem, criticarem e refletirem sobre a sua educação, profissionalização e realidade social. Entretanto, a heterogeneidade de nossas classes dificulta o atingimento dessa liberdade utópica. Muitos alunos, embriagados em liberdade, acabam por transformá-la em indisciplina.

A partir daí, como professor, questiono-me: devo revogar essa liberdade e tornar as aulas um espaço de exercício de poder e disciplina? Creio piamente que não. Essa não foi a forma com que minha educação foi formada. Ainda creio que, respeitada certas formalidades dos papéis aluno e professor, é possível tornar os alunos parceiros do exercício do ensino. Mas e como agir quando da indisciplina? Bem, há várias formas, mas com certeza, na minha opinião, o confronto direto não é uma delas. O aluno, em especial o do curso superior, apesar de ser um adulto praticamente formado, ainda é uma criança profissionalmente falando.

Falta-lhe muito ainda em organização, disciplina, ética e responsabilidade no campo profissional, apesar de toda sua carga de experiência familiar e social, que lhe caracterizam um cidadão pleno. Dessa forma, o que é visto como "punição", deve ser antes visto como uma oportunidade de reflexão. Nesse caso, cito meu exemplo particular: "tentando" ministrar uma aula que exigia concentração (falava de algoritmos e deadlocks), não conseguia, por nenhum meio, obter a atenção da turma. Ao invés de exaltar-me, gritar, xingar, ficar pedindo silêncio em vão, propus um questionário sobre o conteúdo que eu tentava ministrar.

Não que um questionário não seja uma forma adequada de ensinar ou apoiar o conteúdo teórico, mas era uma forma de oportunizar-lhes alguma reflexão. O questionário, no momento em que foi proposto, era uma atividade chata, enfadonha e aparentemente sem progresso. Por que eu, como aluno, deveria sair da minha casa numa noite fria para ir fazer questionário? Na aula em questão, não deveria mesmo, mas pense no professor que preparou aquela aula, esperava apresentar um conteúdo relevante e não conseguiu. Da mesma forma com que o aluno se sentia frustrado naquele momento, por se sentir "punido" com o questionário, assim também o era o professor por não conseguir dar prosseguimento ao planejamento do seu trabalho.

07 maio 2007

Flamengo até morrer!

Diziam que o Flamengo estava morto. Diziam que o Botafogo era imensamente superior em técnica. Diziam que Ney Franco era um "novato". Diziam que o time não iria pra frente pois não tinha jogadores famosos...

Pois agora EU digo: Flamengo é CAMPEÃO CARIOCA!!! Mais uma vez valeu a raça, a determinação contra todas pragas e tentativas de desestimular a equipe. Mais uma vez o Flamengo provou que não precisa de "galáticos" para vencer o campeonato carioca. Precisa, antes de tudo, de jogadores comprometidos, de um técnico que não esteja tentando fazer do time um trampolim para a Seleção ou para a Europa ou ainda um país árabe.

Mais uma vez o Flamengo mostra que sua equipe é preparada para o jogo coletivo e para a atuação individual, como ficou nítido no segundo gol, de Renato Augusto, partindo de um chute preciso, indefensável, perfeito, planejado. E o que dizer do goleiro Bruno? Qualidade nata superando a experiência. Esse garoto tem futuro, ou melhor, já tem presente. E agora é um herói rubro-negro. Defender dois pênaltis numa final!!!

É muita emoção, é muita alegria. Parece que vi o Flamengo, com uma equipe a princípio desacreditada, voltar aos tempos de glória da década de 80. Claro que é um passado praticamente insuperável, mas isso prova que nada é definitivo, nem mesmo as más diretorias que vêm assolando esse gigante do futebol nacional.

Uma vez flamengo.
Sempre Flamengo
Flamengo sempre eu hei de ser
É meu maior prazer vê-lo brilhar
Seja na terra, seja no mar
Vencer, vencer, vencer
Uma vez flamengo, Flamengo até, morrer

Na regata ele me mata,
Me maltrata, me arrebata
Que emoção no coração
Consagrado no gramado
Sempre amado, o mais cotado
Nos Fla-Flus é o "ai, Jesus"!
Eu teria um desgosto profundo
Se faltasse o Flamengo no mundo

Ele vibra, ele é fibra
Muita libra já pensou
Flamengo até morrer eu sou

25 abril 2007

GUINESS HANDS

Aqueles que me conhecem um pouco mais de perto sabem que eu gosto de cerveja. Não necessariamente da mesma forma com que gostava na época de faculdade ou de mestrado... Até porque, depois de casado, fica mais "incômodo" alcançar os níveis etílicos de outrora. Qual a solução então? Trocar a quantidade por qualidade...
Se antes você bebia com uns amigos alguns garrafões de "sangue de boi" ou "são roque", acaba trocando por uma garrafa de um bom "cabernet sauvignon" com a esposa. Se antes você esvaziava uma caixa (24 garrafas) de cerveja marca "a que estava em promoção no mercado", acaba trocando por umas pequenas garrafas de bohemia weiss, bohemia trapiche, erdinger, guiness, xingu, duvel, entre outras cervejas boas e excelentes, mas mais caras que as pilsen básicas.
Nesse sentido, uma cerveja marcante pela qualidade de seu produto e pela qualidade de propaganda é a Guinness, uma cerveja de origem irlandesa. Ela é uma stout (de alta fermentação) bem escura, com sabor de malte torrado e um sabor inigualável. As campanhas publicitárias da Guinness são de alta qualidade. Uma das que mais me chamou a atenção foi a "Guinnes Hands". Inclusive participei dessa campanha e criei (você também pode...) um pequeno filme, chamado "JILOH 2", em homenagem ao último post.

22 março 2007

Jiló: a pedidos

Como muitos pediram, apesar de somente um ter tido coragem de solicitar publicamente, aqui vão duas imagens do jiló.


21 março 2007

Jiló e a Diversidade Cultural

Algumas vezes a gente é acometido por uma necessidade de usar clichês. E não fujo à regra: O Brasil é um país muito grande. Claro que por si só isso já é uma constatação óbvia, mas quando falamos isso, é preciso pensar no significado.

O Brasil não é um país grande apenas por sua extensão territorial, o que faz dele um país-continente. A grandeza desse país está justamente na diversidade étnica, cultural, geográfica, e, infelizmente, social que possuímos. Tive várias vezes a oportunidade de presenciar isso in loco. O fato de ter viajado algumas poucas vezes e ser de uma família que está representada e espalhada por pelo menos 10 estados, permitiu-me entender um pouco essa diversidade. Tudo bem que seja de uma forma particular, mas orgulho-me disso mesmo assim.

Nessa semana mesmo tive a oportunidade de comprovar isso. Entrei para lecionar mais uma aula (sistemas operacionais, que fique bem claro) e quase fui atropelado por um grupo de alunos perguntando-me: “Professor, como é um jiló?”. Passado o inusitado da pergunta, a explicação para o fato de um professor de computação estar respondendo a isso é que os referidos alunos são do RS e o professor da região sudeste.

O jiló é o fruto do jiloeiro, e muito abundante nos estados de SP, MG e RJ, sendo bastante consumido na culinária do sudeste e do nordeste. No sul é raro, pra não dizer incomum. Bem, mas o que isso tem a ver com diversidade? São pequenas curiosidades como essa que mostram que um grande número de pessoas de cada estado morrerá sem nem imaginar o que se come, bebe, veste ou fala num outro estado. É o mesmo caso de quando vou visitar meus amigos e perguntam: “Como é o tal chimarrão?” ou “É verdade que o pessoal quase só come churrasco?”.

Parece ignorância, no sentido mais pejorativo da palavra, mas não é. Antes um desconhecimento, uma vontade saber o que existe além. Infelizmente nem todos têm a oportunidade de viajar ou desbravar o país. Acredito que isso pode ser corrigido com uma educação menos regionalizada. É necessária uma educação que permita aos nossos compatriotas vislumbrar o que existe além do quintal de suas casas, com todo respeito.

Assim, o nordestino vai saber o que é butiá, mondongo, bergamota e carreteiro; e o sulista vai conhecer jiló, graviola, jaca e buchada...

01 março 2007

O fim das férias: prólogo de um chato

Último dia de férias... Você volta ao convívio das pessoas comuns (férias te fazem sentir um deus, só observando os meros mortais trabalhando) e retoma os hábitos cotidianos, na esperança vã de que o seu corpo se adapte novamente ao trabalho. Tarefa árdua e quase impossível. Deixo até aqui uma sugestão. O retorno ao trabalho deveria ser mais gradual, igual criança nova em escola: no primeiro dia trabalha 2 horas; no segundo dia, 4 horas; no terceiro dia, 6 horas; e, enfim, no quarto dia, as 8 horas clássicas. Mas claro, tudo isso sem esquecer que o retorno deve ser sempre numa quarta-feira, pra semana ser mais curta e não desgastar o cidadão. Depois disso, na próxima segunda, gás total e o trabalhador totalmente readaptado.

Mas voltando ao último dia de férias, eu pergunto tem coisa pior que, no meio das suas férias, o cara para o seu almoço, no meio do shopping (você de bermuda e boné, o uniforme oficial de férias), e perguntar qualquer coisa mística e esotérica (pois você jamais poderia saber, estando em férias) sobre TRABALHO? Será que não dá pra ver na cara feliz e relaxada do sujeito, estampado, em letras garrafais: "ESTOU EM FÉRIAS". Esse é o exemplo clássico do CHATO. E faço aqui a publicação de uma lista que permitirá a qualquer um reconhecer (ou reconhecer-SE) um chato.

OS MANDAMENTOS DO CHATO

01- Ser ou não ser chato, eis a questão.
02- A Teimosia é a força de vontade do chato.
03- O chato nunca perde o seu tempo. Perde sempre o tempo dos outros.
04- Chato só ronca quando não dorme sozinho.
05- Geralmente os chatos começam a falar dizendo: "Fica chato dizer isso, mas..."
06- Justiça seja feita: todo chato tem cara de chato.
07- Existem várias maneiras de ser chato, mas o chato escolhe sempre a pior.
08- Um chato não aprende a ser chato, ele nasce chato e nunca deixa de ser.
09- Se um chato se cala de repente é porque morreu.
10- Uma pessoa brilhante pode ser um chato, mas um chato nunca pode ser brilhante.
11- Alguém sempre é chato de alguém.
12- Todo mundo tem seu dia de chato, mas o chato é todo dia.
13- Todo chato cutuca.
14- O chato é uma pessoa que, quando você pergunta "Como tem passado?", ele conta.
15- O chato quando está com tosse, em ves de ir ao médico, vai ao teatro ou ao cinema.
16- Chato é um sujeito que fica mais tempo com você do que você com ele.
17- Chato é aquele sujeito que faz você perder a fila do elevador, que leva meia hora, pra contar uma piada que leva hora e meia.
18- Chato é o indivíduo que diz pra você do outro lado da rua: "Vem cá!", quando a distância entre vocês é absolutamente a mesma.
19- Chato é aquele cara que só fuma pra filar cigarro dos outros.
20- Chato só deixa de fumar pra ficar chateando quem fuma.
21- Chato é o sujeito que vai com você pela rua e pára de 2 em 2 metros porque não sabe conversar andando.
22- Chato é aquele indivíduo que só vai ao cinema assistir a filme de mistério pra poder contar o desfecho para os outros.
23- Quando o chato chega em casa, a família dele finge que está dormindo.
24- Chato não tira férias, só muda temporariamente de endereço.

13 janeiro 2007

Paraninfo: Discurso

Retornando às atividades do blog, começo o ano com um grande orgulho. Ontem, 12 de janeiro, fui homenageado e escolhido para ser paraninfo da turma de formandos de Informática e Ciência da Computação. Durante o ato solene, proferi o discurso que transcrevo abaixo, na íntegra.

Sempre que vejo entrar uma turma de formandos de Computação, relembro-me da emoção que experimentei quando, na minha querida Juiz de Fora, ocupei um lugar de honra semelhante aos que meus afilhados tomam para si agora. Afirmo de coração: é incalculável e indescritível esta sensação, o amor que sinto por esta profissão. Complexa, intricada, às vezes ingrata e mal interpretada; mas, por outro lado, desafiadora, apaixonante, humana e inspiradora. A razão de ser da Ciência da Computação é o fato de ser feita por e para pessoas.

No ano em que o núcleo dessa turma ingressou na universidade, faleceu um dos mais importantes nomes da Computação, Edsger Dijkstra. Sabiamente definiu: “A Computação estuda tanto os computadores, quanto a Astronomia os telescópios, a Biologia os microscópios e a Química, os tubos de ensaio. O computador é uma mera ferramenta, e não aprendemos a fazer funcionar máquinas, estudamos e questionamos os problemas dos usuários e da sociedade, propondo mudanças para melhorar seu bem-estar. Mudança é a palavra-chave para estes novos profissionais.

Vivenciaram, nos últimos cinco anos, um mundo em velozes e sérias transformações, e foram também agentes deste processo. 2002 está marcado na História pela intensificação da guerra contra o terrorismo e o agravamento da crise no Oriente Médio. Mudamos nossa percepção de segurança e paz. Também em 2002, a ordem econômica mundial começou a alterar-se com a criação do euro. Surgia uma moeda efetivamente mais forte que o dólar. Naquele ano foi reconhecido o verdadeiro inventor do telefone, o italiano Antonio Meucci. No Brasil, o panorama político transformou-se, com o registro de um processo eleitoral histórico e sem precedentes.

Em 2002, ingressaram num curso totalmente renovado: currículo novo, nova experiência didática, posse de um novo coordenador e uma nova direção, a qual passou a traçar os caminhos da universidade que aprendemos a estimar. Esse curso é agora mais moderno e ágil frente à dinâmica do mercado. Os dados que marcam sua turma refletem como assimilaram as transformações e participaram ativamente delas.

Entre eles temos 4 dos fundadores do diretório acadêmico: Cleverson, Elessandro, Mateus e Vagner. Nesta iniciativa demonstraram engajamento e consciência estudantil, com o apoio de todos os seus colegas. Os novos bacharéis estabeleceram um recorde: mais de 60% de seus trabalhos de conclusão qualificados como ótimos ou excelentes. Aprendemos que se uma idéia nãocerto, ainda tem valor, pois a ciência é feita de erros e acertos. Registramos outro fato inédito: dois formandos, Jorge e Maicon, aprovados no mestrado em universidades federais.

Contudo, sem desmerecer as conquistas acadêmicas, as maiores mudanças são sentidas na vida cotidiana. A maioria ingressou ainda adolescente, e acompanhamos seu amadurecimento pessoal e profissional. Neste tempo, alguns constituíram novas famílias e outros enfrentaram dramas pessoais, situações de vida ou morte, problemas financeiras, e encontraram pessoas querendo fazê-los desistir de seus sonhos e ideais.

Tais dificuldades não os impediram de nesta noite poder orgulhar-se do grau alcançado. Durante os períodos difíceis, muitos nos procuraram pra conversar, não como professores, mas como colegas mais experientes, parte de uma família. Passamos até por tempos de animosidade, em que pensamentos menos nobres nos consumiram. Superamos tudo e somos mais que colegas, estabelecendo com muitos uma relação de profunda amizade. Hoje agradeço-os publicamente.

Vocês reafirmaram minha certeza de que ser professor é gratificante e podemos, através da computação, melhorar a nossa sociedade, combater injustiças e construir um futuro mais digno. Como professores procuramos, além de ensinar, fazer diferença em sua vida profissional, como aponta o provérbio chinês: Não corrigir falhas é o mesmo que cometer novos erros.

Lembro que o ciclo de transformações que enfrentarão, não está nem perto de seu término. Mas essa é a essência da vida humana. Tomo emprestadas as palavras do saudoso pacifista Mahatma Gandhi: Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo. Nenhuma melhoria afeta efetivamente o mundo se não for antes sentida em nossos corações. Desta forma, Cleverson, Cristiano, Dione, Doriane, Douglas, Elessandro, Jordano, Jorge, Leandro, Leonardo Laureano, Leonardo Silva, Leonardo Parise, Luis, Maicon, Mateus, Mauro, Rafael, Roseli, Tassiana, Taíse, Vagner e Vitor, creiam firmemente que vocês podem fazer diferença, pois...

Suas crenças tornam-se seus pensamentos.
Seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Suas palavras tornam-se suas ações.
Suas ações tornam-se seus hábitos.
Seus hábitos tornam-se seus valores.
Seus valores tornam-se...
o
seu DESTINO
.” (Mahatma Gandhi)