13 janeiro 2007

Paraninfo: Discurso

Retornando às atividades do blog, começo o ano com um grande orgulho. Ontem, 12 de janeiro, fui homenageado e escolhido para ser paraninfo da turma de formandos de Informática e Ciência da Computação. Durante o ato solene, proferi o discurso que transcrevo abaixo, na íntegra.

Sempre que vejo entrar uma turma de formandos de Computação, relembro-me da emoção que experimentei quando, na minha querida Juiz de Fora, ocupei um lugar de honra semelhante aos que meus afilhados tomam para si agora. Afirmo de coração: é incalculável e indescritível esta sensação, o amor que sinto por esta profissão. Complexa, intricada, às vezes ingrata e mal interpretada; mas, por outro lado, desafiadora, apaixonante, humana e inspiradora. A razão de ser da Ciência da Computação é o fato de ser feita por e para pessoas.

No ano em que o núcleo dessa turma ingressou na universidade, faleceu um dos mais importantes nomes da Computação, Edsger Dijkstra. Sabiamente definiu: “A Computação estuda tanto os computadores, quanto a Astronomia os telescópios, a Biologia os microscópios e a Química, os tubos de ensaio. O computador é uma mera ferramenta, e não aprendemos a fazer funcionar máquinas, estudamos e questionamos os problemas dos usuários e da sociedade, propondo mudanças para melhorar seu bem-estar. Mudança é a palavra-chave para estes novos profissionais.

Vivenciaram, nos últimos cinco anos, um mundo em velozes e sérias transformações, e foram também agentes deste processo. 2002 está marcado na História pela intensificação da guerra contra o terrorismo e o agravamento da crise no Oriente Médio. Mudamos nossa percepção de segurança e paz. Também em 2002, a ordem econômica mundial começou a alterar-se com a criação do euro. Surgia uma moeda efetivamente mais forte que o dólar. Naquele ano foi reconhecido o verdadeiro inventor do telefone, o italiano Antonio Meucci. No Brasil, o panorama político transformou-se, com o registro de um processo eleitoral histórico e sem precedentes.

Em 2002, ingressaram num curso totalmente renovado: currículo novo, nova experiência didática, posse de um novo coordenador e uma nova direção, a qual passou a traçar os caminhos da universidade que aprendemos a estimar. Esse curso é agora mais moderno e ágil frente à dinâmica do mercado. Os dados que marcam sua turma refletem como assimilaram as transformações e participaram ativamente delas.

Entre eles temos 4 dos fundadores do diretório acadêmico: Cleverson, Elessandro, Mateus e Vagner. Nesta iniciativa demonstraram engajamento e consciência estudantil, com o apoio de todos os seus colegas. Os novos bacharéis estabeleceram um recorde: mais de 60% de seus trabalhos de conclusão qualificados como ótimos ou excelentes. Aprendemos que se uma idéia nãocerto, ainda tem valor, pois a ciência é feita de erros e acertos. Registramos outro fato inédito: dois formandos, Jorge e Maicon, aprovados no mestrado em universidades federais.

Contudo, sem desmerecer as conquistas acadêmicas, as maiores mudanças são sentidas na vida cotidiana. A maioria ingressou ainda adolescente, e acompanhamos seu amadurecimento pessoal e profissional. Neste tempo, alguns constituíram novas famílias e outros enfrentaram dramas pessoais, situações de vida ou morte, problemas financeiras, e encontraram pessoas querendo fazê-los desistir de seus sonhos e ideais.

Tais dificuldades não os impediram de nesta noite poder orgulhar-se do grau alcançado. Durante os períodos difíceis, muitos nos procuraram pra conversar, não como professores, mas como colegas mais experientes, parte de uma família. Passamos até por tempos de animosidade, em que pensamentos menos nobres nos consumiram. Superamos tudo e somos mais que colegas, estabelecendo com muitos uma relação de profunda amizade. Hoje agradeço-os publicamente.

Vocês reafirmaram minha certeza de que ser professor é gratificante e podemos, através da computação, melhorar a nossa sociedade, combater injustiças e construir um futuro mais digno. Como professores procuramos, além de ensinar, fazer diferença em sua vida profissional, como aponta o provérbio chinês: Não corrigir falhas é o mesmo que cometer novos erros.

Lembro que o ciclo de transformações que enfrentarão, não está nem perto de seu término. Mas essa é a essência da vida humana. Tomo emprestadas as palavras do saudoso pacifista Mahatma Gandhi: Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo. Nenhuma melhoria afeta efetivamente o mundo se não for antes sentida em nossos corações. Desta forma, Cleverson, Cristiano, Dione, Doriane, Douglas, Elessandro, Jordano, Jorge, Leandro, Leonardo Laureano, Leonardo Silva, Leonardo Parise, Luis, Maicon, Mateus, Mauro, Rafael, Roseli, Tassiana, Taíse, Vagner e Vitor, creiam firmemente que vocês podem fazer diferença, pois...

Suas crenças tornam-se seus pensamentos.
Seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Suas palavras tornam-se suas ações.
Suas ações tornam-se seus hábitos.
Seus hábitos tornam-se seus valores.
Seus valores tornam-se...
o
seu DESTINO
.” (Mahatma Gandhi)

5 comentários:

Cleverson disse...

Pois é, acho que ninguém mais poderia ter captado tão bem a essência desta turma e transformado isto em um belo texto. Me emocionei quando o ouvi lá, "no calor da hora", e tornei a me emocionar ao lê-lo agora.

Já te disse isto pessoalmente e volto a dizer aqui, OBRIGADO POR TUDO, Mestre, professor, AMIGO.

Um grande abraço deste afilhado! :)

DP disse...

Bem emocionante teu discurso (pena que eu perdi).

Isso mostra que valeu a pena o teu esforço pra concluir as tuas palavras pra essa formatura.

Anônimo disse...

Fantástico o discurso. Conseguiu captar perfeitamente (pelo menos para mim) o que sentimos durante os cinco anos. Me indentifiquei em vários momentos e me emocionei tb. Com certeza vou guardar essa palavras para sempre. Vlw Adário, e como já te disse, nós aprendemos muito mais que apenas teoria com você.

Anônimo disse...

Bonito discurso!

Anônimo disse...

Adario,
Como ja escrevi para seu endereço eletrônico, querro aqui reafirmar, suas palavras foram muito importantes e motivadoras no sentido de aliar aquela tecnologia que para muitos pode parecer fria e calculista, essencialmente "máquina" com o desenvolvimento humano e social. Eu particularmente me senti valorizado, passei o curso todo tentando viabilizar formas de aliar o trabalho com pessoas e comunidades assessoradas com a tecnologia da computação e to nesse desafio, agora com mais segurança ainda. Pra arrebatar citar Gandhi foi ótimo, temos essa frase deste grande mestre em um belo banner: "Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo!"
Vitor